Eu tô passando por um momento de introspecção. Parece que as coisas que acontecem ao redor me atingem de um jeito diferente. São pessoas, fatos, decisões que bagunçam um pouco a fortaleza que eu construí para me proteger da loucura que me ameaçou. Parece que eu cansei de ser forte, eu cansei de ser eu e vem uma vontade (constrangedora até) de me atirar no colo de alguém que cuide de mim, que resolva meus problemas, que pague minhas contas e me beije e me ame e deixe eu jogar minha perna sobre a perna.
Eu ainda sinto uma falta enorme dele, uma saudade aguda e dolorida numa penca de momentos da minha vida. Todavia, eu não consigo deixar de encarar a realidade da impossibilidade. E aí o meu desejo tem objeto indefinido, qualquer objeto, mas não qualquer um. Teria que ser especial, único, doce e quente. O meu desejo de companhia e essa dor de solidão me deprimem e eu me pego deitada na cama à noite projetando toda uma novela mexicana com finais felizes, com alguém cujo rosto é embaçado e desconhecido.
Eu olho e não reconheço ninguém que assuma o papel de protagonista. Eu até procuro e converso e dou espaço, daquele jeito meu: primeiro o susto da história, depois o rechaçar básico, umas fugidas com desculpas esfarrapadas e, só depois de constatada a persistência, eu abro uma janela para ver se a sorte entra. Mas não. É sempre tudo complicado, porque depende de uma série de variáveis ininteligíveis, incompreensíveis e imponderáveis.
Gostar de alguém é a mais difícil das conquistas. Difícil, porque gostar de verdade é muito raro. Necessita de preocupação, de química, lágrimas, brisa ou encantamento. Sexo, envolvimento e até paixão, é fácil... Mas gostar mesmo, é muito difícil.
Para gostar de alguém não precisamos que este seja o mais bonito ou o mais sexy, mas ser apenas aquele a quem se quer proteger e que quando se chega ao seu lado nos sintamos encantados, estando ele bem ou deprimido. Gostar é fazer pactos com a felicidade mesmo que esporádica, escondida, fugidia ou impossível de durar. Quem gosta, sabe do valor da mão dada num gesto repentino, apenas porque deu vontade; de um carinho na face, do abraço apertado, da vontade de comprar e oferecer um perfume, do mimo, de poesia lida bem devagar, do sorriso que quer aparecer quando o outro chega, do brilho do olhar ou o olhar cúmplice sem palavras...
Saber gostar é também exagerar...
Saber gostar é enlouquecer aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido...
(Sol Brito)
2 comentários:
Oi Marcele, lendo esse seu texto, lembrei de um trechinho do livro O pequeno Príncipe.
“Andando, o principezinho encontrou um jardim cheio de rosas.
Contemplou-as... Eram todas iguais à sua flor. E deitado na relva, ele chorou...
E foi então que apareceu a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Que quer dizer "cativar”?
-... É uma coisa muito esquecida. Significa criar laços... Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. Eu não tenho necessidade de ti e tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim, único no mundo. E eu serei para ti, única no mundo. Minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. O teu passo me chamará para fora da toca, como se fosse música. A gente só conhece bem as coisas que cativou.
.- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho...
- É preciso ser paciente. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal - entendidos. Cada dia te sentará mais perto... Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três, eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.
Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!"
Beijos,
Selma Helena.
Que lindo. Já se tornou um dos meus posts favoritos!
Laila
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