quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Refletindo e constatando

Eu tô passando por um momento de introspecção. Parece que as coisas que acontecem ao redor me atingem de um jeito diferente. São pessoas, fatos, decisões que bagunçam um pouco a fortaleza que eu construí para me proteger da loucura que me ameaçou. Parece que eu cansei de ser forte, eu cansei de ser eu e vem uma vontade (constrangedora até) de me atirar no colo de alguém que cuide de mim, que resolva meus problemas, que pague minhas contas e me beije e me ame e deixe eu jogar minha perna sobre a perna.

Eu ainda sinto uma falta enorme dele, uma saudade aguda e dolorida numa penca de momentos da minha vida. Todavia, eu não consigo deixar de encarar a realidade da impossibilidade. E aí o meu desejo tem objeto indefinido, qualquer objeto, mas não qualquer um. Teria que ser especial, único, doce e quente. O meu desejo de companhia e essa dor de solidão me deprimem e eu me pego deitada na cama à noite projetando toda uma novela mexicana com finais felizes, com alguém cujo rosto é embaçado e desconhecido.

Eu olho e não reconheço ninguém que assuma o papel de protagonista. Eu até procuro e converso e dou espaço, daquele jeito meu: primeiro o susto da história, depois o rechaçar básico, umas fugidas com desculpas esfarrapadas e, só depois de constatada a persistência, eu abro uma janela para ver se a sorte entra. Mas não. É sempre tudo complicado, porque depende de uma série de variáveis ininteligíveis, incompreensíveis e imponderáveis.

Gostar de alguém é a mais difícil das conquistas. Difícil, porque gostar de verdade é muito raro. Necessita de preocupação, de química, lágrimas, brisa ou encantamento. Sexo, envolvimento e até paixão, é fácil... Mas gostar mesmo, é muito difícil.

Para gostar de alguém não precisamos que este seja o mais bonito ou o mais sexy, mas ser apenas aquele a quem se quer proteger e que quando se chega ao seu lado nos sintamos encantados, estando ele bem ou deprimido. Gostar é fazer pactos com a felicidade mesmo que esporádica, escondida, fugidia ou impossível de durar. Quem gosta, sabe do valor da mão dada num gesto repentino, apenas porque deu vontade; de um carinho na face, do abraço apertado, da vontade de comprar e oferecer um perfume, do mimo, de poesia lida bem devagar, do sorriso que quer aparecer quando o outro chega, do brilho do olhar ou o olhar cúmplice sem palavras...

Saber gostar é também exagerar...
Saber gostar é enlouquecer aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido...

(Sol Brito)

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Marcele, lendo esse seu texto, lembrei de um trechinho do livro O pequeno Príncipe.

“Andando, o principezinho encontrou um jardim cheio de rosas.
Contemplou-as... Eram todas iguais à sua flor. E deitado na relva, ele chorou...
E foi então que apareceu a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Que quer dizer "cativar”?
-... É uma coisa muito esquecida. Significa criar laços... Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. Eu não tenho necessidade de ti e tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim, único no mundo. E eu serei para ti, única no mundo. Minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. O teu passo me chamará para fora da toca, como se fosse música. A gente só conhece bem as coisas que cativou.
.- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho...
- É preciso ser paciente. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal - entendidos. Cada dia te sentará mais perto... Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três, eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.
Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!"

Beijos,

Selma Helena.

Anônimo disse...

Que lindo. Já se tornou um dos meus posts favoritos!


Laila