quinta-feira, 12 de abril de 2012

Vai por mim

É difícil acreditar quando se está no fundo do poço. É quase impossível acreditar quando nos vemos tragados pelo olho do furacão e a vida ao nosso redor gira em destruição, levando com uma força centrífuga  tudo aquilo que parecia sólido e permanente. É muito complicado acreditar quando não há terra firme sob os pés. Contudo, a única certeza que se deve ter é de que passa. É aquele clichezão de que não há mal que sempre dure. Passa, meu amigo, isso também passa. Seja lá o que "isso" for.

E aí, o tempo corre no seu tic-tac incoerente. Às vezes, rápido demais. Outras tantas, arrastado. A terra vai girando em torno de si e do sol num movimento inexorável que faz tudo no mundo mudar. Até nós mesmos. Acumulamos tempo e experiências, momentos e recordações, alegrias e tristezas, vida que segue. E, a cada nascer do sol, uma nova chance para cada um, uma nova oportunidade de ser, um motivo para agradecer. O tempo passa e as coisas vão para seus lugares.

E aí, de repente, não mais que de repente, nos enxergamos inteiros, não mais aos pedaços; felizes, não mais em destroços; esperançosos, não mais taciturnos. O tempo passa e devolve os sentimentos de plenitude e a vontade de viver. O tempo passa e o sorriso no rosto, o tum-tum-tum no coração e o brilho no olhar retornam aos seus assentos. O tempo passa e, mesmo a vida tendo virado de cabeça pra baixo, redescobrimos ou ratificamos razões e seguimos descobrindo que sempre vale a pena.

O tempo passa e vem o amor. Aquele lá que se achou que tinha sido esgotado, para o qual se pensou que não haveria mais espaço, que se acreditou perdido para sempre. Vem e cura as feidas, e estanca de vez as dores, e faz com que quase se esqueça daquilo que mais doeu. Traz consigo novos rumos, a doçura que amansa o olhar e aquieta o coração, as certezas de que se tem porto onde atracar quando de tempestade se faz o tempo. O amor surge e afaga a alma, traz a calmaria de que tanto se precisava. O amor chega colorindo o preto e branco e cinza da vida, tornando cada instante vivido num carinho e cada momento compartilhado em emoção.

Quando o amor surgir depois de tudo, quando ele chegar abrindo em céu azul as nuvens espessas das tempestades, deixe-o entrar, meu amigo. Deixe-o fincar a bandeira, marcar presença, fazer raiz. Não se apegue às dores e às saudades. Não supervalorize o passado, o que se foi, o que não é mais. A vida se faz daquilo que é presente no presente. E o que importa é agora, é pra já. Não adianta querer ter certezas e garantias, porque elas nem existem. Bem como, de nada vale construir barreiras de proteção em torno de si para não sofrer novamente. Não tentar é não viver e não é assim que se deve passar pela vida. Entregue-se, vá fundo. E aí então o sorriso vai se escancarar e a felicidade chegará ao superlativo máximo possível. Valerá a pena!

7 comentários:

Moniii disse...

Lindo!!!
Perfeito!!!
O saber que tudo passa é o que me conforta neste momento!!!

Moniii

Fatima Vila Nova disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Raquel Duarte disse...

"O amor surge e afaga a alma, traz a calmaria de que tanto se precisava. O amor chega colorindo o preto e branco e cinza da vida, tornando cada instante vivido num carinho e cada momento compartilhado em emoção". O que seria da gente sem o amor?? Tudo fica mais fácil quando se tem o amor por perto. Amor de amigos, amor de pai e mãe, amor de alguém especial... Não importa a origem desse sentimento. Sempre é bem vindo.

Belíssimo depoimento de uma pessoa que chegou ao fundo do poço, viveu em um dos piores cárceres que a vida pode oferecer a alguém e hoje está aqui neste blog, compartilhando uma felicidade que chega ao "superlativo máximo possível" (adorei essa expressão!) e nos dizendo para não desistir diante das piores dificuldades porque tudo passa nessa vida e um dia as coisas voltam ao seu lugar. Que sorte que eu tenho de ter achado esse blog! Que bom que vc escreve, Marcele! TE ADORO!!!!

Mari Vilela disse...

Ameiiiiii, estava precisando dessas palavras, mais uma vez obrigada. :)

Isabelle disse...

ÔOO Marcele, são palavras q parecem ou são mesmo universais....Vc falou de um apego desapegado, de um viver indo a fundo sem ter medo do q pode vir...Amei!!!! Bjo

Cele disse...

"Cele:

"não tentar é não viver" - essa foi pra mim, amiga!!! Queria colocar um link deste post, lá no face, porque você escreveu pra mim!!! Sem querer... eu sei... assim como acontecem as maiores e mais significativas coisas numa amizade: a gente "sente", pressente, antevê o que o amigo precisa e - plim - a gente faz acontecer.

Bjos e bençãos.
Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com

Iana disse...

Cele, é exatamente assim! O texto descreve perfeitamente aquela dor insuportável que é física e na alma, mas que felizmente passa e a vida deixa de ser preto e branco e volta a ter cores alegres novamente.
Este é um dos seus melhores textos, adorei!
Bjos, Iana.