domingo, 30 de janeiro de 2011

O sonho

Ela estava numa longa e cansativa viagem de ônibus, dias e dias dentro do veículo, estafada de tanto chacoalhar. A estrada era péssima e parecia que ela tinha deixado muita coisa pra trás, muita coisa querida, porque durante o percurso inteiro chorara. Ela estava exausta, com olheiras, com os cabelos desgrenhados, já duvidando do mundo todo, sem saber porque demorava tanto para chegar no destino final, sem entender porque ela tinha mesmo que suportar aquilo tudo, ela estava quase querendo desistir... Mas aí, num trecho qualquer, onde nada mais existia, além da longa linha de asfalto e o mato ao redor, ela viu um rapaz sentado no chão, no acostamento.

Algo dentro dela foi tocado e, mesmo sem saber a razão, ela pediu para o motorista parar e desceu do ônibus, deixando para trás o rumo que seguia, deixando suas coisas no bagageiro. O ônibus seguiu viagem e ela desceu no meio do nada. Sentou ao lado do rapaz, que cego, perdido e desorientado, repetia em voz alta que andara por muito tempo e sentia que estava no mesmo lugar. E, mais uma vez, sem compreender direito o que se passava dentro dela, ela segurou a mão do rapaz e lhe disse que, muito embora não soubesse direito para onde ela mesma ia, queria ajudá-lo a encontrar o caminho dele.

E ela fez com que ele se levantasse de novo; e um ajudou o outro a parar de chorar; eles diminuíram a solidão do caminho; eles contaram e recontaram as histórias de vida; eles riram de piadas sem graça; eles dividiram as refeições e carinhos; eles falaram da sensação de desabamento e da falta de visão de futuro; eles falaram do que os motivava a persistir; eles falaram de tudo; e, num determinado momento, ele reconheceu o lugar para onde ia e eles tiveram de se despedir.

Depois da despedida, ela sentiu uma falta enorme de fazer companhia a ele e ponto. Não importava mais para onde estava indo, nem de onde estava vindo, ela só queria que ele estivesse junto. Ela viu como ele estava tranquilo ao encontrar o próprio rumo, era uma quase felicidade - embora não fosse. E diante do adeus, resolveu buscar alternativas. Subiu num ônibus qualquer e desceu, tentou olhar para os lados e nada, entrou em becos e ruelas, auto-estradas que saíam do nada para o lugar nenhum. Quando resolveu mudar de ares, achou que nada seria  tão bom quanto o percurso a pé que fez com ele durante dias. E, sempre que ela tentava algo novo, batia no coração a certeza de que ainda não era aquilo ali. Mas ela não voltou atrás e continuou tentando...

2 comentários:

Idê Maciel disse...

...sonho ou imaginação? Se sonho se encaixa nos dois momentos e para ambos...

Mirys Segalla disse...

É isso aí, baby!
Keep walking!!!
Always!!!
Se não foi esse, vai ser outro alguém... mas VAI SER!!!

Bjos e bencaos

Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com