quinta-feira, 1 de março de 2012

Primeiro de Março

Ela sempre dizia que quando me tornasse mãe, eu entendê-la-ia. E é verdade. Das muitas coisas que aprendi com ela - dentre as quais, a usar a mesóclise (coisa de filha de professora), eu aprendi a ter um olhar mais leve com relação às crianças, a perceber que os filhos não são meus e a construir uma relação de amizade e intimidade desde o quanto antes. Aprendi que não é preciso ser indestrutível, infalível, indefectível, inexpugnável. Não é preciso ser austera, severa, firme. Para se construir uma relação com os filhos só é preciso estar próximo, ouvi-los, apoiá-los, ser verdadeiro, comprar as lutas deles como se fossem suas para que eles entendam que você estará lá com todas as forças que tiver, ainda que fraqueje vezenquando, ainda que sofra e não saiba o que fazer.

Eu me tornei mãe sem querer, mas descobri que quero, com os meus, a relação de amizade que tenho com ela. Uma relação em que somos inteiramente quem somos, quem podemos ser, e nos apoiamos e contamos uma com a outra. Eu quero que eles aprendam que são livres na mesma medida em que forem responsáveis; que entendam que poderão fazer a escolha que quiserem se também estiverem dispostos a arcar com as consequências; e que, quando o fardo for pesado demais, eu estarei lá por perto, dando uma mãozinha. Por que foi isso que eu vi, foi assim que eu aprendi e foi isso que me tornou quem eu sou.

Eu cresci ouvindo ela dizer que não veria os netos - coisa de gente hipocondríaca - e eles já estão por aí, sacolejando e amolecendo o coração da Vovó Dedê. Eu sei que ela verá ainda os filhos dos meus irmãos e sei que ela ainda quer passar muitas tardes jogando cityville e aumentando a herança da família (piada interna). Eu tenho certeza do cumprimento do meu trato com Deus: ninguém da nossa família partirá nos próximos 25 anos. Então, mãe, te prepara que ainda tem muita água pra rolar embaixo dessa ponte.

Assistindo a vida passar, eu percebo que envelhecer é uma benção. Ter tempo é uma benção. Ainda que não dê tempo para que seja feito tudo aquilo que foi sonhado, ainda que não se alcance todos os planos que foram traçados, ainda que a vida não seja sempre boa; viver e ver e ter quem se ama por perto e com saúde é uma grandiosa benção. Abençoada minha mãe!

Quem bom que seus prognósticos não se cumpriram, mãe! Ainda teremos muitos primeiros de março juntos!

Feliz Aniversário!

5 comentários:

LuTTy disse...

Cele! Parabéns pra sua mãe!!! Bjs, LuTTy

Anônimo disse...

Que linda sua relação com sua mãe. Super parabéns para as duas!!

Anônimo disse...

E vc acredita em Deus, agora???
Ainda lembro vc com uma cara de condenação aborrecente-superior-pseudointelectual quando falaram sobre Ele na mesa de um bar.
Fico feliz por vc ter alguém para se apoiar ( mais um, quer dizer).
Que Deus esteja sempre em seu coração!!!

Mirys Segalla disse...

Tia Ide:

Diz na bíblia "ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos coração sábio". Certamente, a senhora está contando os seus direitinho, na medida do plano Dele pra sua vida!!!

Bjos e muitas bençãos pra todo mundo dessa família que eu aprendi a admirar!

Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com

Idê Maciel disse...

Cele, adorei esse post. Não somente porque era em minha homenagem, mas porque foi um que me levou às lágrimas pela plena presença de Deus em nós e também porque sou mesmo uma chorona de sensibilidade à flor da pele. Educar não tem mistério, mas também não tem receita... Obrigada filha por esse seu olho em mim.

Mirys, também nós, aqui no Ceará, nessa minha familia aprendemos a reconhecer em você uma amiga além de virtual e amamos igualmente os seus... Que Deus nos abençoe hoje e sempre!