terça-feira, 17 de maio de 2011

Cantem comigo: ei, ei, ei, Gabito é nosso rei!

Droga, viu? Da minha ilha emancipada, cercada de sombra e mar revolto, vem você, invade, e faz um país. Não foi uma luta justa, eu lá me esforçando pra ser mulher e você estrala os dedos, puxa meu queixo e me faz menina tudo outra vez.
 

Guarda-chuva

- Você bem poderia estar sozinho, não é mesmo? Ou, sei lá, estar com outra pessoa desfilando por aí. Uma menina dourada, quem sabe. Os ombros mais erguidos, o sorriso mais arqueado, os olhos reluzindo, falando alto aquelas bobagens bem sacadas que ninguém mais faz, senão você. Mas tá aqui, comigo. Meio quieto, um pouco soturno, às vezes deita no sofá da sala, de ponta-cabeça, com uma assustadora fisionomia de tédio, assistindo trabalhar aflita no computador. Desvirtuando minha rotina, me impacientando, com o cheiro da minha casa, das minhas coisas, do meu medo de um dia você levantar repentinamente, pegar as chaves e dizer que não sabe se volta.

- Gosto daqui. De te telefonar já na terça-feira perguntando se posso voltar. De trazer um doce que te acalma, se você trabalha aflita no seu computador. Você é a única pessoa que eu queria conhecer bem e levar junto no peito nessas ocasiões especiais chatas que só servem pra masturbar minha vergonha alheia do mundo, depois te contar e rir contigo.

Sei viver sem você, oficialmente falando. Mas eu não quero, não vou. Eu poderia te dizer aquelas doces mentiras sinceras - "Você-é-minha-vida", "Não-sei-o-que-seria-da-minha-vida-sem-você" ou todo esse tipo de porcaria que a gente diz no calor da hora. As pessoas são assim, dizem que não sabem viver sem você. Depois aprendem e esquecem de comemorar contigo. E deixam vazio o lugar que sempre será delas. Eu não, simplesmente estou aqui. De vez em quando sujo, entediado, agressivo, mal-humorado, triste, calado e chato. Mas aqui.

Não há lugar ou motivo no mundo capaz de me afastar. Já fui a todas as festas que tive oportunidade, fui a todos os shows, praças, bares, drogas, músicas, ruas, modas e também já comi todas as biscates que precisei pra realmente me sentir homem, seu homem. Nada mais funciona. Nada na vida é mais excitante que ter alguém que te abrace por trás, entrelace os dedos e diga seu nome de batismo, estendendo um chá de erva-cidreira.

Porque eu te encontrei, da forma mais esdrúxula e inesperada. E me apaixonei pelo cheiro e pelo balanço meigo e suave dos seus quadris. E como duas sacolas plásticas que se enroscam na cidade, no meio do caos, movidos por um breve redemoinho pré-chuva, a gente resolveu que ia se amar. E ninguém sabe melhor sobre nós, que nós. Ninguém poderia me dar um só argumento pra que eu devesse ficar sem você. Que dirá essa gente lá fora, cheias do Complexo de Romeu e Julieta.

No show a sol e céu aberto do nosso cantor favorito ou assistindo um filme mal dublado na tevê, nós curtimos estar juntos o tempo todo. Resposta oficial: eu poderia estar por aí, com outro alguém, injetando as sensações vertiginosas de ser livre e procurado, mas dei uma abertura ao verdadeiro amor.

E nada é mais importante que isso, que é sim, às vezes pasmo, repetitivo e bucólico, mas é real. É isso, é preciso abrir mão de uma porrada de coisas se você não quiser ficar sozinho à noite, vagando pelo seu apartamento minúsculo com o maior corredor do mundo. Vê se um dia você entende. Pensa nisso. E pode largar mão do seu guarda-chuva contra as paixões. Até porque, nem tem chovido tanto assim.

Um comentário:

Isabelle disse...

Marcele,
concordo com o "côro"...:)
conhecia ele pelo twitter, aliás conhecia o @carascomoeu e já gostava muito!
obrigada por compartilhar textos como esse.
beijo!!