terça-feira, 24 de maio de 2011

Sobre os caminhos

Caminhar de mão dada em terreno irregular é coisa de difícil execução. Permanecer com as mãos entrelaçadas enquanto se passeia por sobre barrancos e pedras e buracos e deslizamentos no caminho é tarefa que exige um esforço hercúleo. É claro que ajuda demais ter uma mão ali, segurando firme a sua, quando você quase escorrega, quando se desequilibra, quando o pé derrapa na lama. Todavia, continuar segurando a mão do outro exige uma força que a gente nem sabe se tem.

Em determinados pontos do caminho, a gente se sente cansado e pesado e triste. Sente que está segurando a mão, as lágrimas, a dor, as pontas. Sente que está sendo privado de um caminho mais fácil, mais colorido, mais plano. Sente um certo desapontamento por ter escolhido esse caminho. Em tantos outros momentos, é possível elucubrar que as dificuldades porque se passa é para garantir robustez, resistência, sustância. É só um jeito meio torto de fazer com que não reste mais dúvida alguma sobre nada quando a parte plana do caminho chegar.

A gente sabe, porque é bem evidente, que a estrada é sinuosa, é tortuosa, que o acesso é precário, que não há faixas pavimentadas, que é um desbravamento contínuo. Cada passo dado é uma conquista. Cada pedaço de chão pisado é um deslumbre. Cada quilômetro percorrido é uma vitória. O problema - e talvez nem seja um problema mesmo - é ter bem claro, dentro de si, de um jeito pressentido, de um jeito inexplicável e surpreendente, que é esse mesmo o caminho que se quer. Ainda que seja assim difícil e cansativo e sofrido algumas vezes.

Já se disse uma vez que "para quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve". E se a gente sabe, se bate bem dentro de si uma certeza que pulsa e empurra adiante, que traz mais uma fornada de coragem sempre que a razão ou o coração titubeia, se se tem uma certeza que ilumina a escuridão do caminho inteiro; então a gente também sabe que, pouco importam os buracos, os barrancos, os abismos ao lado do caminho, pouco importam os deslizamentos e os desequilíbrios e as derrapagens no percurso. Porque quando a gente sabe para onde está indo o caminho é só um detalhe.

2 comentários:

Isabelle disse...

caminhar acompanhado dos que nos tocam o coração é bem melhor! :)
beijo

Mirys Segalla disse...

Cele, conheço o ditado de uma forma um pouquinho diferente:

"nenhum vento sopra a favor do barco que não sabe para onde vai"

Bjos e bençãos.
Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com