terça-feira, 10 de maio de 2011

Doendo

Se existisse um botão on/off, certeza de que eu apertaria off hoje. Se existisse um mecanismo para transferir para uma pasta esquecida do HD, certeza de que era lá que estaria. Se existisse uma maneira de tirar de dentro de mim um pouquinho, só para que eu enxergasse tudo sem estes olhos de esperança, sem esse querer que cega, certeza de que eu toparia na mesma hora. Se eu pudesse expulsar de mim, ainda que para ser invadida de novo depois, eu faria. Mas não posso, não dá. Eu não sei tirar de mim aquilo que fez raiz profunda. Eu não consigo olhar com imparcialidade essa realidade que me tomba, que me devora, que me entontece. Tá aqui de um jeito inegável e da mesma forma que me alegra, que me dá muitos motivos para sorrir, que me faz feliz e me devolve uma sensação de pertencimento e paz, às vezes, me machuca demais. Eu nem queria ser vulnerável, frágil, nem me sentir exposta assim. Eu não queria mesmo, mas me pego sofrendo sem querer e de uma maneira tão contundente que me assusta. Olho pra mim aqui, com essa poça de lágrimas no travesseiro e me pergunto quando foi que as coisas tomaram esse rumo e não consigo encontrar nenhuma resposta convincente. Eu achei que conseguiria equilibrar esse pratos, eu achei que conseguiria me colocar numa posição de pé atrás e de prudência, eu achei que eu saberia ser a pessoa equilibrada, ponderada, aritmética e, no entanto, me pego em plena queda livre no precipício, sem paraquedas, sem redes de segurança, sem colchão do corpo de bombeiros. Eu me pego tão envolvida nesse sentimento que eu não sei o que fazer comigo mesma sem você por perto e acabo me deixando largada aqui, nesse quarto, com as cortinas fechadas para esperar só o tempo passar até você voltar. Eu não sei explicar direito a dor dilacerante que essa ausência provocada por mim me causa, eu sei que é uma sensação desesperadora, é aquela coisa que não cabe e não assenta, que impede o ar de entrar tranquilamente nos pulmões, que impede a fala de sair sem soluços, que impede o olhar de alcançar o que existe de mais belo no mundo, que impede o coração de se alegrar com a vida que vibra ao redor. Eu não sei dizer como eu deixei as coisas chegarem a este ponto, mas eu sei do que eu sinto e tem doído demais.
 

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