sexta-feira, 27 de maio de 2011

Afeto em atitudes

Quando somos envolvidos e nocauteados por qualquer sentimento, eu acho importante que se exponha o que se está sentindo. É necessário colocar para fora e não deixar aquilo tudo se acumular dentro da gente. Digo mais: é importante mostrar para o outro o que nos agride, o que nos violenta e o que nos acalma e enternece a alma. Acho digno que se deixe a fúria explodir, as lágrimas caírem, o sorriso saltar. Acho lindo o extravazar. Para mim, essa tarefa nem sempre é fácil. Tenho sérios problemas em demonstrar fragilidade, mais ainda quando não me sinto segura e tranquila. Não é difícil me adivinhar, todavia. Eu demonstro o que movimenta o meu ser por inúmeras formas tangenciais além da fala. Sim, eu acho importante falar, mas acho mais importante ainda deixar inequívoco em atitudes.

E aí são pequenos gestos, sutilezas do bem querer, que demonstram o tamanho do sentimento e a profundidade da relação que se tem por/com alguém. Não é preciso grandes declarações, demonstrações públicas, gritos em desvario, serenatas, outdoors, propaganda em horário nobre. Não é preciso que o mundo inteiro saiba, que seja twittado ou compartilhado via facebook, que seja um vídeo acessado quinhentas e quarenta e cinco mil vezes no youtube. Não é preciso que seja insensato definitivamente. A verdadeira demonstração de amor acontece em brandas demonstrações de carinho e inequívocas comprovações do afeto. E, para mim, é muito mais fácil que seja assim.

É o celular que toca só uma vez e a voz do outro lado é de alegria. É conseguir perceber num olhar o que está escondido e muito bem trancado no mais profundo de dentro e ter liberdade para falar isso, assim, de cara, pá pum. É ter ouvidos que não se cansam de ouvir a mesma história, o mesmo tema. É estar de prontidão para as emergências mais fúteis e para as mais inúteis. É cuidado um com o outro, com o bem estar, com o que se come, como se dorme. É ouvir com atenção histórias longas e contadas nos mínimos detalhes e se lembrar de cada um deles dias depois. É pensar numa música tema para os momentos que se vive junto. É estar à disposição a qualquer hora, do dia e da noite, onde quer que se esteja. É não precisar de esconderijos, nem de subterfúgios, nem de desculpas, nem de escapar pela tangente por conta dessa relação. É ter certeza sobre o que sente, sobre o que o outro sente e, principalmente, sobre o que os une. É não ter motivo de reproche, de vergonha, de medo porque é o que se é. É saber a dimensão e a importância da relação e ser grato por isso. É se preocupar com a opinião do outro e também sobre o que os outros pensam dele, com o que pode feri-lo, com que pode magoá-lo e tentar protegê-lo das agruras do mundo. É ter cuidado, carinho, respeito para aqueles dias em que o coração tá cambaleando. É dividir devaneios tolos, uma fatia de bolo, uma pata gorda de carangueijo, uma pizza de pepperoni. É estar presente quando a companhia é o melhor presente, seja um dia de alegria, seja um dia de desmoronamento. É segurar a mão, oferecer o ombro, lenço de papel, um pastel, massagem no pé, camisa reserva, o carro, o colchão. É comprar o presente exato sem fazer a menor diferença o preço. É saber o que ele quer comer, antes que se peça o cardápio. É sentir-se agraciado quando consegue agradar. É abrir mão de coisas que se sabe que podem atingi-lo. É tornar importante o que é importante para quem se quer bem. É ver o mundo com os olhos de quem se ama e sempre está um pouquinho à frente, uns passos a mais, para que nada de mal o atinja. É uma gentileza, uma delicadeza e, às vezes, também uns puxões de orelha, uns sacolejos. Porque ninguém pode viver flutuando, é preciso manter os pés no chão. É uma entrega de alma que se faz por amor.

É claro que tem quem ame diferente, de um jeito mais ogro, mais tosco, mais grosseiro, ríspido até (who knows?). É claro que tem gente que não sabe nem demonstrar nem falar o que sente. Mas essa linguagem aí é universal e, muitas vezes, o afeto em atitude vale mais que as palavras. O que não sai pela boca, mas vem de coração, tem muito mais poder e deixa demonstrado de maneira cristalina  o bem querer.

2 comentários:

Isabelle disse...

Ah Marcele, tão lindo, do jeito que sempre deve e deveria ser...tão mais simples assim!
:)
beijo

Anônimo disse...

"O que não sai pela boca, mas vem de coração, tem muito mais poder e deixa demonstrado de maneira cristalina o bem querer." hoooo que frase mais linda! Mais perfeita!!!!
Beijos!!!
Maria Lúcia.