quinta-feira, 7 de abril de 2011

Conselhos Clariceanos

Eu sou péssima pra elaborar estratégias. Péssima para utilizar máscaras. É fato que o que transparece, via de regra, é uma mínima parte do que existe. Mas eu não sei mentir. Sou sempre traída pela intensidade que me move, pelo olhar que revela e até por atitudes que eu tomo de maneira insensata, na base do impulso.

Descobri que detesto ficar naquele joguinho de gato e rato em que a gente não diz o que quer dizer, não demonstra o que sente, está a fim de ligar e não liga porque pode ser que o outro pense isso ou aquilo, assim ou assado. Acho que cansei desses recursos juvenis de conquista e prefiro sempre a verdade, o inequívoco e dou (muito) a cara pra bater.

Deve ser também porque desisti de perder meu tempo com pormenores e, em se tratando de relacionamento, eu acredito mesmo que não há meio termo. A gente sabe desde o príncípio o que quer e sabe também da reciprocidade. Por mais que, em algum momento, as coisas estejam confusas, embaralhadas, há sempre um pressentimento que revela o que parece obscuro.

Há quem persista, há quem fique dando murro em ponta de faca, batendo cabeça na parede e insistindo, insistindo, insistindo. Eu não. Eu só vou se o caminho for de mão dupla. Eu só prossigo se me sentir segura e querida. Eu só continuo se, e somente se, houver reciprocidade. Se eu começo a duvidar, eu recuo. Se algo me angustia, eu recuo. Se há concorrênia, eu recuo. Se eu não vejo sinceridade, reciprocidade, exclusividade, respeito, carinho, eu caio fora. Fácil.

Não se trata de ser leviana, displicente com as possibilidades, fria ou qualquer coisa que o valha. É que eu não quero mais viver presa a nada que possa dar errado. E concordo com Clarice, quando diz que de nada adianta esforços inúteis porque o amor nasce espontaneamente e, se tudo foi feito para conquistar o amor, e ele não veio, o que resta é não fazer mais nada.

"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer." (Clarice Lispector)

Um comentário:

L@N disse...

AMEI....

Minha cara...