domingo, 27 de março de 2011

Sobre merecimento

Muitas coisas bacanas aconteceram na minha vida desde o janeiro trágico, quando tudo ficara de cabeça para baixo. Não vou repetir aqui tudo que contei lá no Não quero merecer outro lugar, mas é fato que, no meio do pior de todos os momentos, eu encontrei e recebi muitos motivos para sorrir. E por isso e por muitas outras coisas, eu costumo dizer que o que há de melhor nessa vida são as pessoas que a gente conquista.

Aí que dia desses, alguém que também está vivendo uma situação delicada, bem diferente da que eu passei, mas não menos dolorosa, veio me dizer que preferia passar pela dor da morte a conviver com o imbróglio em que se metera, disse que a dor dela era muito maior, disse que as circunstâncias no caso dela eram muito piores e, a tacada final, disse que eu tinha muita sorte pelas coisas boas que me aconteceram e vem acontecendo, porque eu nem fazia por onde, eu nem rezava, nem tinha fé em Deus.

Na hora, eu nem me choquei muito com as palavras, fiquei mais tentando dar uma força, porque entendo que seja normal, quando se está no olho do furacão, não se ter visão periférica. A gente enxerga só o que é nosso, o que dói pungentemente dentro da gente, o que mais parece insuportável, intransponível. Passado algum tempo, eu fui refletir sobre o que me foi dito e acabei caindo nas garras da ideia do merecimento e, então, veio uma avalanche de sentimentos conflitantes e distorcidos.

Eu merecia passar pelo que passei pelo simples fato de não acreditar, até então, em Deus? É culpa minha ter de ver meus filhos crescerem sem o carinho, o exemplo, o afeto, o apoio do pai mais amoroso que eu já vi? Eu mereço o carinho e a solidariedade de tanta gente que me cerca e me envolve num cobertor humano? Eu mereço que gente querida cuide de mim de perto e de longe e não permita que eu me sinta sozinha? Eu mereço coisas boas, mesmo sendo quem eu sou, cética, descrente? E, pensando pelo lado contrário, quer dizer então que é só fazer a tarefa de casa religiosa que estaremos imunes ao sofrimento e à dor?

Fiquei uns dias ruminando essas questões dentro de mim. Confesso que muitas vezes me senti culpada por ser feliz na maior parte dos momentos. Desabafei com alguns e, mesmo sem encontrar resposta, mesmo sem entender porque tanta coisa boa me aconteceu na vida, antes e depois do janeiro trágico, mesmo sem saber direito se se trata mesmo de merecimento ou escolhas acertadas, eu decidi não sentir culpa e viver.

Eu não posso mudar a história da minha vida, mas escolho somente o que me faz bem. Eu não posso convencer a pessoa que implantou essa dúvida na minha cabeça de que não se pode comparar dor, mas posso fazê-la constatar que o que difere nossas situações é a absoluta irreversibilidade da morte. Eu não posso fazer com que coisas tão boas aconteçam na vida dela, mas posso torcer por isso. Eu não tenho como repassar pra ela o carinho que as pessoas tem por mim, mas eu posso ser carinhosa e solidária com ela. Eu não sei se mereço, eu não sei nem se é essa a questão, mas eu sei que eu vivo, com coragem para seguir em frente, com vontade de ser ainda muito feliz, e agradeço sempre.

5 comentários:

Lu disse...

Oi querida,
Também já passei por isso.
Tomei a liberdade de falar também sobre isso no meu blog.
bjss para vc e seus pequenos.

Ácidas e Doces disse...

Ah Cele
Como uma cristã apaixonada por Jesus e com profunda convicção que Deus é bom e poderoso e tudo, só te digo uma coisa: tem gente que fala besteira demais!
Beijo
Kézia

Idê Maciel disse...

... na Palavra de Deus (Bíblia) há muitos exemplos de curas, bênçãos e felicidade doadas, entregues e providenciadas pelo Senhor, tão somente pela oração de um justo. Eu rezarei até o ultimo suspiro pela bondade de Deus na sua vida, filha, E, creia, ninguém, NINGUÉM mesmo, precisa fazer nada para que Deus FAÇA. Deus é todo amor (e SEMPRE). O que colhemos e o que recebemos não está relacionado ao que fazemos, mas ao livre e incondicional amor de Deus. Não temos méritos em nada do que Dele recebemos, acredite nisso. Tem mais: você (que eu conheço desde o ventre) é sim, uma pessoa de Deus e não é pelo que você faz ou deixa de fazer, mas pelo que você É!!!Para merecer, seja assim como é. A fé é um exercício, voce está na primeira série. bjs

Mirys disse...

Cele: concordíssimo com a Kézia!

Enfim...
Amiga, passar por coisas ruins ou boas, nessa Terra, não depende de aceitarmos ou não a Deus.

A grande diferença que existe em se ter Deus, em se conviver com Ele, em aceitá-lo em sua vida é que, daí pra frente, nada parece forte demais para te derrubar! Você tem paz! Uma paz, às vezes, incompreensível para outras pessoas (sem Deus), mas real e tranquilizadora. Você sabe que está nas mãos Dele, que Ele tem os melhores planos para você!!!! Mesmo que você não entenda, agora...

Fique em paz, minha amiga!
E, se quiser conversar sobre esse Deus, esse amor, essa paz, essa tranquilidade, estou aqui! Eu, além de um batalhão de gente aí pertinho de você, estou aqui! Na distância de um e-mail ou de um telefonema!

Bjos e bençãos.
Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com

Flavio Tramontini disse...

Marcele, Deus na bíblia apresenta suas "leis" e ali promete inúmeras bençãos para quem as respeita... Deus, por exemplo, abençoa quem trabalha... vemos inúmeros crentes preguiçosos... Deus é justo e neste quesito fica complicado abençoar se o cara não trabalha... assim como vemos ateus prósperos... mas o cara trabalha de sol a sol... Deus abençoa!!
Na verdade Deus criou todas as coisas, todos são criaturas (criação) de Deus e estão sob o "comando" de suas leis...
Seguramente o que Deus te dá, pq te vejo inclinada a pensar que vem dEle, é porque alguma lei vc anda obedecendo...
Já ser filho de Deus é outra história... é decisão, é opição...
bj, vc merece muito!
obs: Deus tem um carinho e cuidado diferenciado às viúvas...