segunda-feira, 21 de março de 2011

Inundação

Num dia de março, eu vi as comportas da represa serem abertas e assisti a inundação ocorrer. Pensava que o mundo não seria mais o mesmo depois disso, depois de ver a água invandir cada canto, cada espaço. Acreditei que a destruição seria profícua, apostei que cada muro que caíra era para ver nascer uma vasta e ampla paisagem.

Eu acompanhei a força da natureza invadindo e destruindo tudo que era forte construção. Eu observei meio estarrecida e com frio na barriga o tombar de árvores centenárias, com suas raízes flutuando, o cair de casas milenares, o destroçar de uma cidade inteira engolida pelo que não podia mais ser represado.

Depois de serenadas as águas, subi até o ponto mais alto da mais alta montanha para admirar em que aquela paisagem se transformara. Era preciso aquele silêncio e aquela paz, era preciso ter de novo com aquelas recordações, era preciso dessa distância, sem acesso, sem sinal, era preciso a falta de tudo para então reconhecer o que de fato se tinha.

E aí, as coisas surgiram como que reveladas por inspiração divina, como se já estivessem há muito dentro do meu coração, como se pousadas ali antes mesmo da inundação. Ficou muito óbvio o descompasso e a reviravolta. A paisagem continua linda e atraente e todas as aspirações dela continuam submersas naquelas águas. Mas não se tem como brigar contra a força do impossível. Ela olha para o horizonte e só vê a inundação que não pôde evitar, que não soube conter. Não há como voltar atrás.

E a paisagem nunca mais será a mesma.

Um comentário:

Taíssa disse...

Ave, Marcele! Acompanho você no "Não quero merecer...". Você escreve bonito pra caramba!! Já pensou em escrever um livro (de fato?)Vai vendeeeerrrrrrrr!! rsss... Tens sido inspiração para mim, quanto ao interesse pela leitura também, viu? Bjos!