segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Fraquejando

Eu acreditei mesmo que não mais falaria de luto. Eu me propus a buscar outros temas, outras referências e expor agora este outro momento de vida em que me encontro. Eu achava que seria mais fácil do que efetivamente é. Porém, quando a ausência e a saudade gritam dentro da gente e espancam a alma até exaurir todo resquício de força que se tem, torna-se inescapável abrir o verbo para falar de dor.

Eu explico: o final de semana foi difícil. Um dos "T(h)iagos" da turma dele se casou. E quem conhecia, sabe que os quatro eram uma gangue, eram uma turma da pesada, conhecida e querida, sucesso com as meninas, sucesso nas festas. Eram, sem dúvida alguma, dos melhores amigos que ele tinha, pessoas que ele queria muito bem, pessoas com quem convivíamos sempre e era sempre um enorme prazer e uma alegria imensa encontrar nas inúmeras reuniões e noitadas. É incrível o carinho que uns tem para com os outros. Eram a turma dele, os amigos dele, as companhias de farra dele e eram muito presentes na nossa vida, mesmo depois da fase de solteiros-pegadores.

No casamento de outro amigo, em março do ano passado (http://naoquerooutrolugar.blogspot.com/2010/03/cartas-para-voce-ix.html), as coisas ainda latejavam demais, as pessoas choraram copiosamente a saudade e a ausência dele era presença que berrava e não nos deixava esquecer. As lágrimas que caíram provocaram a embriaguez e foi muito ruim estar sem ele ali. Neste sábado, no casamento do Rochinha e da Lia, a mesma turma, a mesma alegria, a mesma festa e eu sozinha. Fui muito feliz e emocionada por ter sido convidada para ser madrinha deles, por reencontrar tantos dos amigos dele, pessoas que faziam parte do que ele era, mas a ausência gritou de novo dentro de mim.

A turma hoje é composta basicamente de casais, muitos com filhos pequenos como a gente, muitos engravidando agora, e eu sozinha ali. Eram os amigos dele, os assuntos dele, as piadas dele, as coisas que ele mais gostava de ouvir e de fazer com pessoas que ele adorava estar e eu sozinha, sem ele ali. No discurso feito pelo noivo ele lembrou e homenageou o Thi, ressaltando o quanto ele faz falta. E aí, apesar de não ser mais tão latejante, apesar de não doer como antes, apesar de achar que consigo suportar, as lágrimas vieram. Eu estava sozinha, enquanto todo mundo estava acompanhado. Eu estava sozinha, num ambiente que era a cara dele. Eu estava sozinha, fazendo o que ele adorava fazer, estar com aquelas pessoas, beber e curtir a noite inteira. Eu estava só.

A festa inteira era a cara dele, não somente pelas pessoas, mas também pelas músicas, pela bandinha tocando frevo com aqueles guarda-chuvas de olinda, pelas músicas de axé... Eu curti, dancei, bebi, ri muito, fui paquerada (!!!). Não foi um peso, mas ainda assim doeu muito. E, ao voltar para casa, com o dia nascendo, as lágrimas caíram aos montes. Não sei se algum dia isso tudo vai parar de doer em mim. Não sei se algum dia, se eu estiver nesses eventos acompanhada, se isso mudaria a sensação de vazio e o peso de não tê-lo mais no mundo. Não sei se tem coisas que são mesmo insuperáveis, doem e vão doer sempre. Não sei se serei capaz de afastar do meu coração essa dor de tudo que poderíamos ter vivido juntos, a frustração de tudo que poderíamos ter sido, a irresignação por essa partida tão de repente e tão precoce. Eu não sei.

O que sinto agora é que o vazio não deixa de existir; que a perda dói muito, mesmo quando essa dor fica disfarçada de superação e resiliência; que a vida faz com que coisas boas aconteçam depois das coisas ruins e, ainda assim, a gente se pega sentindo falta do melhor que tinha; que não adianta fugir do que se sente e que é preciso permitir que estes sentimentos cheguem, revirem tudo e se vão. O que eu sei é que eu ainda cambaleio, mas eu quero me manter de pé. Sempre.

9 comentários:

Anônimo disse...

Ai querida.

Choro com você. Talvez por isso me sinta próxima, como se nos conhecêssemos pessoalmente. Várias vezes me pego sorrindo com você. Agora, parece que seria capaz de apertar sua mãos, somente, como se você ao meu lado estivesse.
Que Deus ilumine o caminho da sua família.
Beijos

Anônimo disse...

Oi Celi,
Tenho lido seus posts há algum tempo, desde que fiquei viúva. É incrivel, realmente, a falta que eles fazem em nossas vidas. Tenho menos tempo do que você, como viúva, mas já sei o quanto tudo faz muita falta, o quanto tudo está diferente em minha vida e na vida de minha filha. Tenho uma filha de 7 anos.
Hoje levei ela, para a primeira excursão com a escola, e também estava sozinha... É muito ruim se sentir sozinha.
A morte é simplesmente arrasadora.Ela acaba com todos os sonhos e planos, mas a solidão que ela trás, para quem ama, é sem explicação, de tão terrivel.
A falta que meu marido me faz, a falta de viver sem amor, realmente, nos torna diferentes. Será que algum dia o luto vai ser superado? Espero que sim.
É muito estranho, como pessoas, podem simplesmente sumir, desaparecer, e temos que ir em frente, sempre em frente.
Mas, por tudo que li, sei que você está tentando muito, ir sempre para a frente, e você vai conseguir.
mas, cá entre nós, é muito ruim ser viúva, é muito ruim ser só, é muito ruim não ter um amor, para chamar de "meu".
Boa sorte! E, vamos em frente, sempre em frente (estou tentando me convencer disso).

Fábia Castro Alves disse...

Torço silenciosa pra que vc fique em pé. Sempre.

Cele disse...

Alê, pode acreditar que eu me sinto muito confortada pelas pessoas que aqui comentam.

Anônima viúva, eu acredito mesmo que tudo que nos resta é seguir em frente, por nós mesmas e pelas crianças que nos acompanham. Muitas vezes não é fácil, beira o insuportável, mas é o que nos compete fazer. Se há algo que eu posso controlar é a forma como eu lido com isso e então eu me esforço para conseguir me manter equilibrada.

Fábia, obrigada por vir, por ler, por torcer. Também estou sempre pelo seu blog, embora quase nunca comente.

Mirys Segalla disse...

Amore... você bem sabe que eu passei por algo similar, há duas semanas. De se sentir sozinha na multidão. De olhar pro lado e todo mundo ter um par... menos eu! De me sentir fraca, cambaleante, abandonada...

Mas eu li em algum lugar (acho que no pinterest) que você não sabe quão forte é até que "ser forte" seja a sua única opção! E é, Cele. É a nossa única opção. Ser forte... e chorar, quando não der mais...

Bjos e bençãos.
TJ. Se precisar, grita!
Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com

Suelen Rauber disse...

Eu não vivi isso. Minha perda foi muito diferente da tua, e mesmo nas dores da minha perda eu encontro motivos pra sentir menos dor. A ausência aqui dói, mas daí eu me lembro das outras dores de mágoas, e a ausência já não dói tanto. Posso imaginar esse desconsolo que tu sentes e que volta e meia aparece. Sentir dor nunca é bom, pesar sempre faz sofrer, luto e saudade nos vergam e quase levam ao chão. Eu sinceramente não acredite que um dia essas dores passem. A gente provavelmente deixa de senti-las com tanta frequencia, mas elas inevitavelmente retornarão em algumas ocasiões. Não é muito que posso fazer por ti, Cele. Nem te conheço pessoalmente. Mas o carinho que sinto por ti e pelos teus, o sinto tão intensamente que tento projetá-lo a vocês, na tentativa de que ele atravesse esses espaços virtuais e´físicos e os alcance. Eu sei que não é muito, e sei que ainda dói. Mas tu não estás sozinha, queri. Estamos todos aqui contigo, te acompanhando e mandando forças, mesmo poucas, mesmo com nossas dores. Um beijo. Te lembra que não estás só jamais.

Isabelle disse...

Cele, só pra dizer que passei por aqui e que torço por vc(s). Acho que deve ser um processo de adaptação diária, mas sem a saudade ir embora jamais, somente transformada...beijo!!

Izabel Bezerra disse...

Quando passo muito tempo sem passar por aqui,leio tudo o que ainda não havia visto,mesmo que façam muitos dias...
Mas você,seus pequenos e meu querido amigo,não me saem do coração.
Rezo por vocês SEMPRE.Meu pedido para Deus é que acalente teu coração,ilumine seus caminhos,e que na hora certa,coloque em seu caminho,um outro amor,para com você reconstruir uma família...pois você é amor,é casal,é vida,é família!
E meu querido Thiaguinho com certeza,de onde estiver,quer vêla sorrindo e encantando.
Beijos e um grande abraço cheio de carinho.
PS:É claro que você foi e será paquerada,pois é uma linda mulher,cheia de vida e LUZ!

Nilde disse...

Olá!

Desde que conheci o Pedro e falei do 'Para Francisco' ele me apresentou o seu blog eu venho acompanhando a sua caminhada. Rindo, chorando...
Fui 'apresentada' a você (ok, não foi uma coisa formal, afinal o Sabóia não conseguiria =]) no dia da festa e em meio a toda quela 'confusão' e alegria tive muita vontade de dizer que sempre lia o que você escrevia e que uma forma muito estranha parecia que eu já te conhecia e queria sentar para conversar. Não fiz isso, mas nos veremos em outros momentos e quem sabe poderemos falar sobre o Caio Fernando Abreu? ;]

Continuo por aqui!

Bjos e fique bem