sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Samurai

É disso que eu falo sempre, de arrebatamento; de tombar inerte ante a força do que se sente; de se superar os medos, as dúvidas, as queixas, as correntes pelo que é raiz dentro de si. Eu falo disso, de só saber sentir a despeito de tudo que se esperava e que se havia planejado, apesar da improbabilidade do sentimento, independentemente do que possam falar. Eu falo de algo que briga com o cérebro e que quer se manter aceso, fumegando a coluna vertebral, congelando o estômago. Eu falo do que muda o curso da vida, refaz planos e projetos, recria os sonhos e pinta de azul céu cada instante compartilhado. Eu falo daquilo que sempre deixa um gosto bom e vontade de muito mais. Eu falo de algo que devolve luz à escuridão; que devolve sentido e rumo certo à vida destroçada por um furacão; que traz de volta o sorriso de paz para o rosto e para o coração. Eu falo daquilo que faz pensar em para sempre, que faz querer mais tempo, que faz ansiar pelo que há de vir. Eu falo tão somente de um encontro raro, enzima-substrato, catalizando etapas rumo à felicidade.
 
Eu falo disso sempre e nem sei se realmente sou ouvida e compreendida. Eu falo que, embora o sentimento surja em turbilhão, ele pode se manter no universo infinito de dois. É certo que ele não precisa de espetáculo, de multidão, de platéia nem de aplausos. Ele subsiste na distância, nos contratempos, na rotina, no cotidiano que impede as vontades. Ele subsiste convivendo com o improvável. Porém, ele não resiste à unicidade de entrega, aos ataques feroz da solidão acompanhada, à tristeza de não se poder dar aquilo que não se tem e de não se poder ter aquilo que mais se quer. Ele cai desfalecido quando se depara com o não do outro, porque é preciso dois e só com dois ele se mantém em pé.
 
Então, eu falo de não se saber onde se esconder para que o sentimento não encontre; de buscar distrações e terminar com o mesmo pensamento; de querer fugir e permanecer exatamente no mesmo lugar. Eu falo da luta desleal, contra o que é muito mais forte, contra o que é infinitamente maior. Eu falo da resistência, da busca desenfreada pela calmaria no coração, da tentativa ininterrupta de se pacificar a alma e respirar profundo. Eu falo do que não é o que se queria e muda novamente os planos todos, o mapa que se queria seguir. Eu falo da música do Djavan, aquela em que se diz querer lutar contra o poder dele e acaba por cair aos pés do vencedor para ser um serviçal, um samurai. Só que, neste caso, a felicidade cedeu lugar à frustração.

2 comentários:

Izabel Bezerra disse...

E eu falo...que você é puro AMOR VERDADEIRO,que nos enche a alma...e "de grátis"...com lindas palavras que ao mais ignorante dos homens não deixar de tocar o coração,de iluminar o dia,de encher de amor a vida.
Que bom meu DEUS que ela existe em nossas vidas,e que tu Senhor,vai iluminar os camihos dela e nos presentear com o seu mais belo e contagiante sorriso.
Meu beijo no coração...e aquele abraço de ursa.
Aperte bem muito suas jóias raras em meu lugar,e encha de cheirinhos no cangote...kkk

Mirys Segalla disse...

Afê...
Amiga, quanta intensidade pra uma pessoa só!...

Mais uma vez, você escreveu algo lindo... algo que eu queria ter escrito! It´s better to be hurt than not have feeling at all, isn´t it?

Bjos e bençãos.
Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com