Ela sabe. No fundo, ela sabe de tudo. Ela consegue pressentir o que está escondido e antever o futuro deles. Ele fala que a adora e chama de linda. E ela sabe que quer aproveitar cada segundo do lado dele porque o tempo é curto e a felicidade é pra ontem. Ela só queria rir com ele a noite inteira, madrugada a dentro, todas as noites. Queria que cada uma dessas noites não tivesse fim para falarem as besteiras de sempre e outras coisinhas mais, para jogar conversa fora, para dividir a vida, os medos, a rotina, as dores e os caminhos. As longas noites de conversa são sempre perfeitas e ela não entende como pode ser tão gostoso estar do lado daquele cara, sempre e tanto e cada dia mais. Ela se pergunta como pode estar tão feliz. Feliz de poder simplesmente conversar com ele, feliz por saber do que ele sente e do que pensa das coisas do mundo, feliz por ajudar, por ouvir. Aí, ela percebe que queria estar ali para sempre. Quando eles se abraçam, o ritmo da respiração dela muda. E ela sabe que, na verdade, ele mudou a vida dela (ou teria devolvido a vida a ela?). Ele não fez nada pra isso, não era nem essa a intenção, não foi programado, mas ela passou a se sentir muito mais feliz depois que a vida deles se cruzaram. Ela sabe que quer ele e isso é tudo. Quer ele abraçando com aquelas mãos macias, com aquele corpo quente, aqueles olhinhos brilhando ao lado dela, o olhar no olho que fala sem palavras, o sorriso mais do que fofo. Aquele cara chegou de páraquedas, imprevisivelmente, e a rendeu sem o mínimo esforço, sem fazer nada demais, só sendo quem ele é. E ele é o cara pra quem ela olha e pensa e diz em tom de brincadeira: me carrega pra sua vida? Ela sente que as afinidades são muitas, ela sente que o desejo é recíproco, ela percebe claramente o que os une. O único problema são as correntes amarradas nos pulsos dele. Elas são invisíveis, quase imperceptíveis em alguns momentos, mas estão lá, prendendo o abraço dele ao passado, impedindo a entrega sem ressalvas, sem poréns. Ela não vê as correntes, mas sente a presença delas nos passos à frente que ele não consegue dar, na limitação do espaço que ela pode ocupar, na impossibilidade de ir além. Porque ela não pode ver, ela também não pode fazer nada. A libertação depende da decisão e de muito esforço dele mesmo. Às vezes, ela pensa que ele gosta de estar ali, preso às correntes, naquele espaço que ele conhece bem, num espaço em que ela se faz presente quase sempre. É limitado, mas é seguro, é conhecido, é o espaço dele. O mundo é grande e misterioso demais para ser desbravado e ela é só uma mocinha impulsiva, inconstante e apaixonada. Por enquanto, é assim que as coisas funcionam: ele só vai até onde as correntes permitem ir e ela fica circulando pelos espaços vazios ao redor. Vezenquando, ela sente falta de que ele chegue mais perto. Vezenquando, ela se lembra que queria muito visitar outros lugares com ele. Vezenquando, bate o cansaço da espera sem prazo. Vezenquando, ela pensa em não voltar mais ali só para ver se ele se solta das correntes e corre o mundo atrás dela. Porém, para não perder essa companhia que é tão preciosa para ela, ela insiste em voltar, em ficar por ali, pululando ao redor dele. Com as cabeçadas que deu e com as puxadas de tapete que levou, ela aprendeu algumas coisas da vida. Uma delas é que estes encontros do coração são raros e são muitos especiais. Não deveriam ser desperdiçados. Ela sabe que é por isso que insiste. Ela aprendeu também, com a diva Clarice, que quando se faz tudo para que alguém nos ame e não dá certo, o que resta é não fazer mais nada. Ela teme que esse dia chegue, o dia em que ela desistirá da esperança, o dia em que ela não voltará mais. No embate da felicidade presente versus o sofrimento futuro, ela aposta sempre na primeira e vive. Que ela se prolongue no tempo e se faça eterna antes que a indesejada hora da decisão chegue.
(Inspirado num texto de Brena Braz)
2 comentários:
identificação, :)
palavras que são verdade verdadeira!
E eu torço para que essas correntes se quebrem logo. Esse tempo corre e o agora tem que ser vivido hoje.
Bjim
Lidiane Dantas
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