terça-feira, 28 de junho de 2011

Para sobreviventes

Antes de sobreviver ao pior de todos os momentos, eu não prestava muita atenção nas pequenas tragédias pessoais que acontecem todos os dias em muitas famílias. Eu até ouvia falar de uma coisa ou outra no noticiário. A gente vê na TV acidentes, calamidades e doenças ceifarem vidas todos os dias. O problema é que só quando o negócio acontece dentro da nossa própria casa é que a gente olha para tudo isso de um jeito mais delicado.

A tragédia é notícia sempre, as calamidades e as doenças também. A dor dos que ficam não, ela não sai no jornal. A dor é íntima, é velada, é calada. Ela se acumula e se dissipa em lágrimas que caem lentas ou efusivamente durante as madrugadas em que se abafam os soluços. A dor de cada um dos que sobrevivem é silenciosa e suportada com unhas, garras, dentes e os caquinhos do coração que fora despedaçado. A dor é insuportável, é latejante, é de dobrar as pernas até que assente dentro da gente. E, mesmo quando assenta, tem momentos em que a gente sente tudo de novo, como no primeiro dia, e em que se tem certeza que, assentada mesmo, ela não estará nunca.

A dor que os sobreviventes carregam, creio eu, é eterna. Ela arrefece, estanca, cabe, assenta, mas de vez em quando se remexe por dentro e arranha, enfia suas garras de novo no coração que foi mal colado, nem cicatrizado. A dor não passa, minha gente, tenho que admitir. Mas a gente se cansa de sofrer e entende, a duras penas, a contragosto, que é preciso seguir. Restam momentos, lembranças e um amor que não se esvai. A gente toca a vida com o que restou e deixa de lado o sofrimento, o pesar, o luto. A gente olha para frente e se pega sorrindo e sonhando de novo, mesmo tendo sobrevivido e mesmo com essa dor imensa sentada dentro de si. E isso é tudo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Mais do mesmo...
Tá precisando de uma inspiração para seu coração e, dessa vez, uma bem feliz para que vc escreva as coisas lindas que vc sabe escrever...

Climeidy Carvalho disse...

"Dissestes que se tua voz tivesse força igual à imensa dor que sentes. Teu grito acordaria não só a tua casa mas a vizinhança inteira..." Sempre que leio seu blog lembro dessa música.
Muito intensa suas palavras.
Parabéns pelo blog!

Anônimo disse...

Marcele, que texto lindo. E lendo eu chorei. Chorei pois é verdade. Eu vi meu pai me deixando...seu último suspiro ainda me sufoca o peito. Já se passaram 9 anos. A dor tá quietinha, trancada. Mas de vez em quando....ahhh de vez em quando ela bota a cara na porta do coração e me toma de assalto e na memória eu ainda ouço a voz do meu paizinho me chamando e aí nessas horas eu busco um cantinho e choro. Baixinho. Contida. Mas sentindo o mesmo buraco que me tomou o chão no dia em que o perdi.
Beijos,
Selma.

Isabelle disse...

Marcele,
A dor dos sobreviventes é silenciosa, porém forte...
Que eles e vc, alguém tão querida, seja muito feliz hoje e sempre!!!!
Beijos!!