O tempo passa no seu tiquetaquear apressado. A gente pisca e já é segunda, a gente pisca e já é o meio do ano, a gente pisca e já é Natal... Não dá tempo de fazer tudo da forma como se quis. O tempo corredor de maratonas vai empurrando avante sempre, vai nos colocando em pé mesmo com as pernas bambas, vai nos impondo atitudes das quais não podemos fugir. Podemos guardar nossos segredos em caixinhas secretas escondidas em cofres cujas senhas só nós mesmos sabemos. Podemos nos fingir de múmia ou estátua ou coisa que o valha para permanecermos estagnados na nossa condição, porto seguro, já conhecido, lugar comum a que nos acostumamos. Podemos tapar o sol com a peneira, fingir que não dói o que lateja, fingir que não cansamos de sangrar, fingir que não bate tão descompassado assim. Podemos tentar enganar o coração, fazer com que a racionalidade aja com poder de império, afastando os impulsos que nos fazem agir, removendo os pensamentos que aquecem a alma. Podemos repetir mil vezes a mesma história para fazer com que aqueles que nos cercam também acreditem na nossa farsa. Podemos fazer o que quisermos, mas não podemos deter a força daquilo que simplesmente é. O poder das coisas que são é inquestionável e não há cofre que resista ao seu vigor e não há habilidade humana capaz de detonar sua inquebrantável unidade. Contra as coisas que são, não há argumentos, questionamentos, persuasão, retórica, que possa fazê-las diferente. Diante delas, devemos simplesmente desistir, entregar os pontos, contornar a invencível pedra no meio do caminho e deixar que o tempo maratonista aja arrefecendo a dor da impossibilidade de vitória.
Um comentário:
O tempo é desse jeito mesmo,enfim...Com seu texto lembrei de uma música : Resposta ao tempo da Nana Caymmi...
O tempo é algo inevitável...
Mas como diz a música: " Ele é uma criança que não soube amuderecer...ele aprisiona e "nós" libertamos.
Um beijo!!
Como sempre, seus textos são um pontinho de reflexão e lindos!!
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