quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Temos nosso próprio tempo?

Assisti na noite passada um filme de ficção científica ao estilo "tela quente". O filme trata de uma série de aspirações humanas corriqueiras, como a imortalidade, a juventude eterna e o uso do tempo que temos. Explico.

Na história, cada ser humano nasce com um relógio implantado no braço. Este relógio só é ativado quando completa 25 anos e, a partir dessa data, a pessoa não envelhece mais, mas tem seu tempo constantemente marcado numa contagem regressiva visível em seu antebraço. Fisicamente, a aparência é sempre jovial e o corpo é sempre atlético e qualquer pessoa, em tese, pode se tornar eterna se conseguir, a cada dia, mais tempo para si. Incrível não?

A genialidade do roteiro está no fato de que o tempo passa a ser dinheiro (time is money). As pessoas trabalham o dia inteiro e ganham algumas horas. Contas, empréstimos, ligações em telefone públicos, pedágios, refeições, são todos pagos com o tempo que se ganhou. Basta aproximar o antebraço e a quantidade de tempo/preço é diminuída do tempo que se tem.

Nesse contexto, poderíamos supor que não haveria diferença entre ricos e pobres, uma vez que é justamente a morte e o medo dela que nos aproxima a todos. Ledo engano. Os mais pobres correm o tempo todo contra o relógio, tentando às pressas conseguir mais tempo de vida. Muitos morrem na rua, em plena luz do dia, por ter seu tempo esgotado. Deixam de comer para economizar, deixam de ter lazer, moram em locais mais baratos (vejam a ironia fina do roteiro).

Os mais ricos andam com guarda-costas e usam luvas para esconder a quantidade exorbitante de tempo que possuem. Apostam quantidades gigantescas em cassinos e gastam muito tempo em festas luxuosas, restaurantes e roupas caros. Fazem tudo lentamente porque, afinal, têm todo tempo do mundo e mais. Emprestam tempo aos mais pobres e cobram juros extorsivos. Mantém um exército vigilante e a divisão espacial, há locais para os ricos e há guetos para os pobres.

O que me fez refletir no filme foi justamente o fato de desmontar aquele raciocínio lindo e libertador sobre o que faríamos se soubéssemos que só nos restava um dia. A resposta sempre envolve gastar esse tempo com coisas que sejam aprazíveis e com as pessoas que amamos. No filme, as pessoas tem um relógio em contagem regressiva e fazem justamente aquilo que somos obrigados a fazer todos os dias: trabalhar, pagar contas, assumir as responsabilidades a fim de tentar conseguir mais tempo. E, depois de conseguir mais tempo, fazem tudo de novo.

Daí, fiquei me perguntando: Temos nosso próprio tempo? O que estamos fazendo com ele? Trabalhando, pagando contas e assumindo responsabilidades a fim de ganhar dinheiro para poder viver. Só não sobra muito tempo para viver, né? Vinte dias por ano de dolce far niente em troca de 345 dias de trabalho. Tá certo, isso? O que nos distingue do filme? Há mesmo distinção?

Créditos: O preço do amanhã (In time) com Justin Timberlake e Amanda Seyfried.

Nenhum comentário: