Então o tempo passa. Na verdade, ele corre acelerado fazendo os ponteiros do relógio girarem as horas, os dias, os meses, os anos. O tempo passa e quando nos damos conta já é de noite, já é domingo, já é novembro. O tempo corre e seguimos aturdidos com ele, mais ou menos como quando somos derrubados por um onda mais forte, daquelas contra as quais não conseguimos lutar e terminamos, sem nadar e sem andar, literalmente bolando até a areia. O tempo passa rápido demais e as datas se repetem freneticamente. E, nesse ritmo, terminamos querendo um pouco mais de calma, um pouco mais de alma, como diz a letra da canção, mas a vida não para.
Então o tempo passa e sendo novembro de novo e sendo nove de novo, o mundo amanhece em tons de cinza. A data se repete, não é a primeira vez, não é mais tão cortante, não é mais tão dilacerante como fora o primeiro nove de novembro sem ele no mundo; mas a data se repete e a saudade finca bandeira no peito e grita suas dores até não mais parar. A correria do cotidiano que impede que pensemos na dor se perde na data de hoje. A alegria da noite anterior que veio com a luz dada ao mais novo Thiago da família se ofusca com esse pesar de não se ter mais o tio pioneiro dos TH da família.
Então o tempo passa. É novembro e é nove mais uma vez. Há trinta anos uma alegria imensa na família pelo nascimento dele. Há muitos anos, um menino traquino, sempre com cortes e raladuras espalhados pelo corpo, assoprava suas velinhas. Há alguns anos, em sequência, sempre uma data cheia de motivos para se comemorar: conquistas, vitórias, carreira, família. Este ano, só saudade e ponto.
Então é saudade e mais uma vez há doçura em cada lembrança, há ternura em recordar, há gravado o sorriso encantador e o carinho para com o mundo. Há, sem dúvida alguma, ainda muito pesar pela ausência, por esta falta que derrama tantas lágrimas, que transborda o que cabe no de dentro. É saudade, é claro. Saudade da companhia primorosa, da gargalhada que engasgava e terminava em tosse, dos olhinhos quase fechados, das mãos de chimpanzé, do abraço caloroso, da segurança do ombro, da gordura nas têmporas e dos dedos de salsicha(né Sabóia?), da diligência e do dom profissional, da sapiência e da calma para resolver o que parecia insolúvel, da paternidade amorosa, da alegria em cada encontro. É saudade de tanta coisa, de cada detalhe do que ele era.
Então o tempo passa e a saudade, essa teimosa, permanece. Chega nesse nove de novembro destruindo um pouco da construção da superação que o mundo espera de nós. Ela vem derramando algumas lágrimas pelo despertar ao som de "parabéns pra você" cantada por dois pequenos que crescem sem o exemplo dele. Ela aparece e mostra sua presença em cada batida do coração que hoje está mais triste. A saudade está aqui e ela é prova contundente, incontestável, inquestionável para que ele, onde quer quer esteja, tenha certeza da imensidão de amor que deixou por aqui.
4 comentários:
Mesmo não tendo passado por tamanha dor, não consigo deixar de me comover com suas palavras sempre tão profundas e ao mesmo tempo tão sensatas! Parabéns Marcele, sair do fundo do poço sem perder a ternura não é pra qualquer um! Que Deus conserve sempre essas lembranças maravilhosas na sua vida e na vida dos seus pequenos! PS: Leio sempre, mas não sou de comentar!
Cele:
Tô aqui.... sempre!
Se precisar, grita, tá?
Ou chora, ou liga, ou escreve, ou chama, ou...
Bjos e bençãos.
Mirys
www.diariodos3mosqueteiros.blogspot.com
O amor permanece, e vai permanecer pra sempre. beijos, cele.abraço nos meninos.
É Cele(permita-me tanta intimidade),é verdade...mais um 09.11 e a saudade insiste em não nos abandonar;tenho andado assim também.Mas ao ler suas palavras,me encho de força,de LUZ...pois só você consegue transmitir o amor,de uma forma LINDA,que nos enche de vontade de viver,e VIVER foi o que mais fez o seu Thi,o nosso Thiaguinho...de forma digna,verdadeira,de SER EXEMPLO para qualquer pai,para qualquer filho SE ORGULHAR!
Mil beijos no coração.Minhas orações SEMPRE!!!
Postar um comentário