quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Muita pretensão
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
E o mundo não se acabou
"Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso, minha gente lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disso, nessa noite, lá no morro não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
e, sem demora, fui tratando de aproveitar
Beijei a boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou
Chamei um gajo com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
e festejando o acontecimento
gastei com ele mais de quinhentão
Agora soube que o gajo anda
dizendo coisa que não se passou
Vai ter barulho, vai ter confusão
porque o mundo não se acabou"
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
O que você faria se só te restasse esse dia?
E você? O que você faria?
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Não é meu, mas poderia ser...
Eu quis sonhar com um amor perfeito. Como aqueles que brilham nos filmes, que nos fazem suspirar com os livros, que nos encantam nas canções.
Aqueles que cintilam azul e tem cheiro de jasmim, brisa de pétalas e reflexo de sol. Nos quais todo dia é sábado e todo sábado é verão.
Quis traçar destinos sonhados, roteiros amarradinhos, cenas sem correções. Dessas nas quais destilar palavras ao pé do ouvido e poses à meia luz proporcionariam a permanência de sorrisos frouxos e prazeres particulares.
Pensava esse tal amor como as fotografias bonitas. Nas quais não há espaço para cenários ruins, sombras ou a necessidade de efeitos especiais. Só o amor naturalmente brilhando calmaria e destilando felicidade. Amor de permanentes mãos dadas e corações grudados, de voz suave e confissões.
Um amor forte e perecível a falas tortas, cortes e curativos. Resistente a tudo, imune a todos e às nossas próprias confusões.
Eu quis. Eu quis um amor assim. Quis acreditar que amor perfeito, amor certinho, amor arrumadinho é aquele que só diz sim.
Mas não. Amor de verdade não é assim. Eu estava errada e talvez você também esteja.
Amor também diz não. Amor também tem discordâncias, desfoques, textos revisados e cenas refeitas. Amor também fica amarrotado, mal-humorado, descabelado e sai mal na foto.
Não é isento a tudo como idealizamos. Não vamos criar ilusões. Amor também sangra, também se perde. Precisa ser regado, vigiado, refeito, costurado, remendado se for preciso, se nos fizer feliz.
O amor tem dias cinza, tempo ruim, trovoada e temporal. Tem sorriso e chororô. Tem banho de chuva e maremoto. Tem bem-me-quer e tô-de-mal. Tem bagunça e mal-entendido. Tem mania e tem pirraça.
Mas o amor, o amor mais bonito, é também tão maior que o imperfeito se refaz. Os defeitos não sobressaem e o mau jeito se ajeita e transforma em paz o que tinha cara de ser vendaval.
O amor constrói e é construção. Tão lindo que não precisa que se entenda. Tão legítimo que não carece aceitação. Tão bem vindo que levanta morada.
Esse amor, o mais bonito, nem precisa ser infinito, suas únicas premissas são: que seja recíproco e que nos faça sorrir. Isso sim, que seja pra sempre.
(Yohana San fer)
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Reflexão
Voltando pra casa no engarrafamento das dezenove horas. Um ônibus emparelha ao lado do meu. Conto as janelas, são nove pessoas, três cochilam, uma analisa o leva-e-traz da calçada. As outras cinco fuçam em seus telefones. Curtem, compartilham, atualizam, comunicam. Estamos na era revolucionária. Geração fone de ouvido – o poder da invisibilidade e do autismo opcional.
Desço na parada do shopping, preciso de uma camisa nova e de um presente. As luzes de Natal me dão engulhos. Preciso ser rápido, e o caminhar não flui. Preciso ficar desviando das garotas com suas caras enfiadas nos seus espertofones, lendo recados, comunicando, com medo de estar perdendo alguma coisa. Que filme você nunca viu? Que festa a gente nunca foi? Quem comeu quem? Quem caiu na rede? O que nós tanto temos a perder?
Vão dizer. Não é só um site, é um encurtador de distâncias. Mas eu não posso sentir o cheiro de talco da minha vó que mora longe, nem o som dela arrastando as sandálias antes de ir dormir. Um avatar e um retrato na lápide dá na mesma. Meus poucos e caros amigos, onde estão? Não faço questão de vê-los, qual a motivação? Sinto que já sei tudo o que eu preciso saber sobre eles. Me esforço, proponho um drinque e um papo mais tarde. Mais tarde, quando? No mês? Ainda em 2012? HOJE? Não dá. E se eu mandar instalar um botão bem no meio da minha cara? Eu fico mais interessante?
O que era pra ser uma rede social virou nada mais que um comparador de vidas. Olha eu, em frente à Torre Eiffel. Olha o meu novo corte de cabelo. Eu curto essa marca de cerveja. Estou em um relacionamento sério. Eu não presto. Eu sou legal. Chove e eu me sinto tão só. Queria que você fosse tão feliz quanto eu sou. Troquei de emprego. Troquei de torradeira. Troquei de sexo. O mundo entre aspas. O universo conspira ao meu pavor.
Sorria, você está se autofilmando. Todo dia tem a hora da sessão de fotografias. Ensaio para a Caras e as bocas e os decotes. Ah, mas uma foto faz de um momento inesquecível. Puxa, que porcaria de memória é essa sua. Postar é viver. Agora, a participação do internauta. Nunca foi tão fácil falar. Era a desmassificação da cultura, agora é só uma extensão do que passa na televisão. Comentarista de novela, esse mala sou eu.
Me escuta. Você precisa desse aparelho novo, o seu método de se importar com seus camaradinhas está ultrapassado, amigo. Pois é. Ninguém mais atravessa a cidade para encontrar alguém. Assine o nosso plano e pague para falar. Com apenas 59,90 mensais você pode ter um milhão de amigos e frequentar salas de bate-papo onde não cobramos 10 por cento, não tem goteira e ninguém corre risco de contrair herpes. Amigo é coisa pra se guardar na barra lateral, dentro da tela do computador.
Agora é sério. Você precisa desse telefone, vai por mim. Ele é três gigas mais smart do que você. Olha como são jovens, felizes e saltitantes as pessoas no meu comercial. Com mais um centavo você leva esse exclusivo aplicativo que simula um beijo de língua com qualquer pessoa que esteja na Romênia.
Você precisa de uma internet ilimitada, senão como vai protestar a favor de índios e contra a carne vermelha? Vamos lá, todos nós, rumo ao senado federal derrubar a corrupção, caminhando e cantando e seguindo no Twitter. Vamos tomar as ruas pelo Google Street View, cada um na sua. Nunca fomos tão livres no meio de tantas grades. Ué, você não queria mudar o mundo? Assine aqui e fique por dentro de nossas grandes novidades.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Rifando
Clarice Lispector
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade
está um pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos, e cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente
que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado,
coração que acha que Tim Maia estava certo
quando escreveu... "não quero dinheiro,
eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece,
e mantém sempre viva a esperança de ser feliz,
sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações
e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste
em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que,
abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas,
mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado
indicado apenas para quem quer viver intensamente e,
contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida
matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
" O Senhor poder conferir", eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer".
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro
que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que,
ainda não foi adotado, provavelmente,
por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar, mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário
a publicar seus segredos e, a ter a petulância
de se aventurar como poeta.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
A força do tempo
"Vai passar. Não é um conselho alegre. Não me tranquiliza saber que terminaremos. É uma advertência que me desespera. Não gostaria que passasse.
Eles não entendem que não sofro porque o amor acabou, sofro para não acabar o amor.
Sou contrário ao término, me oponho à nossa extinção. Sou o único que resiste contra o fim de nossa história.
Eu não quero que passe. Mas sei que vai passar.
Sei que o amor vai morrer desidratado, faminto, por absoluta falta de cuidado. Vai passar, infelizmente.
Tudo o que a gente construiu junto vai passar. Tudo o que a gente idealizou, inventou e armou vai passar.
O lugar no peito que recebia seu rosto para dormir vai passar. Nossos apelidos, nossos chamados, nossas piadas vão passar.
Por mais que acredite que seja impossível, irei namorar de novo, me apaixonar, casar e rir docemente sem culpa. Vai passar.
Não superamos os medos, sucumbimos na segunda crise, desistimos de insistir.
Somos fracos, somos influenciáveis, somos tolos.
Foi muita incompetência de nossa parte.
Não seremos inesquecíveis.
Vai passar."
(Carpinejar)