terça-feira, 31 de maio de 2011
Sobre amor e outras coisas
Eu tenho uma família de verdade: meus pais e meus irmãos ainda saracoteiam pelo mundo e estão comigo rotineiramente. A gente briga, a gente se desentende, a gente grita muito, quebra o pau e, passados cinco minutos, continua conversando e rindo como se nada tivesse acontecido. Tenho orgulho de viver numa família assim, verdadeira e nada rancorosa. Tenho orgulho de poder dizer que somos absolutamente francos uns com os outros, sem mistérios, sem segredos que não possam ser divididos. E é assim: quem faz coisa errada, houve os esporros dos outros, numa reunião do conselho familiar, mas também sabe que ali estão justamente as pessoas com quem poderá contar sempre. Minha mãe diz que se orgulha dos filhos que ela criou. É que no momento de precisão mesmo, no momento do pega para capar, a gente mostrou que segura a onda, nós três mostramos isso. Pai, Mãe, Manu e Tiago: AMO vocês!
Aí, você vai e forma uma família para si. Ama alguém loucamente, ama de um jeito tal, que é como se a pessoa fosse parte do que você é. Ama de um jeito que se reconhece no outro, se mistura com ele, passar a ser dois, e depois três, e depois quatro. Você se vê, de repente, como mãe de dois seres que a olham como se você tivesse superpoderes. Você vê, em dois pequenos, a mistura perfeita e na proporção exata daquilo que você é com aquilo que quem você ama é. Você passa a entender a vida, a perceber porque a gente está nesse mundo caótico. Você passa a extravazar de amor, como se ele simplesmente deixasse de caber dentro de si. A m(p)aternidade transforma o casal e, como eu sempre digo, dá um nó cego na relação. E, por mais que a vida pregue surpresas absurdas e tenha puxado meu tapete no momento em que tudo se encaminhava para a paz que eu sonhei ter, eu sei - e acredito que todo mundo saiba - reconhecer o que foi vivido. Sei também que o simples fato de ter vivido esse amor fez a minha existência ter valido a pena. Não ficou nada por dizer, nada por fazer. O coração dele parou de bater nesse mundo com a convicção plena do meu amor, assim como eu sempre soube do dele, até quando ele quis omitir. Thi, Matheus, Thomás: AMO vocês!
E tem também uma galera que é como se fosse família para mim. E essa é uma das coisas que eu sei fazer melhor: manter amigos por perto. Ainda que eles não estejam fisicamente perto. Assim, eu fui angariando gente no decorrer dos anos. No começo, eram as meninas do prédio; depois a turminha do colégio; depois o pessoal da faculdade; os amigos do Thi que herdei depois do janeiro trágico; os que chegaram virtualmente... Os amigos se acumularam, com poucas baixas. E eu me vejo hoje convivendo com pessoas com quem tenho, em anos de amizade, o mesmo número que a nossa idade. Enquanto a maioria das pessoas não consegue contar nos dedos de uma mão o número de amigos de verdade; eu acho que nem com as duas eu conseguiria dar conta. E posso garantir que passaram todos pela prova dos nove. Sinto-me felizarda por conseguir manter essas pessoas por aqui comigo. Eu sei que eles sabem, cada um deles sabe, porque, por tradição familiar, eu faço questão de falar, de deixar claro o quanto são importantes para mim. Não teria como listá-los aqui, mas repito: AMO VOCÊS!
E pensando nessas pessoas, pensando no objetivo último dessa blogagem coletiva, eu chego mais uma vez à conclusão que eu mais repeti até aqui, a maior lição que tirei do pior momento da minha vida. O mais importante nesse mundo não é aquilo que se tem, mas QUEM se tem. O mais importante nessa vida não é fazer grandes coisas, descobrir a cura de uma doença até então incurável, fazer uma grande descoberta científica, escrever um tratado publicado e traduzido em diversos países, acumular bens e fazer fortuna. Não, gente. Não é nada disso. O mais importante nessa vida é estar ao lado de quem a gente ama, e poder, vezenquando, transformar a vida das outras pessoas com pequenos gestos de amor e doação. Porque o que a gente tem de melhor é o que carrega dentro de si, é o que escapa no olhar, é a ternura dos nossos beijos, é o carinho dos nossos abraços. E isso não há nada no mundo que possa substituir. A gente só vive de verdade quando ama e se doa para alguém, para os outros, por uma causa. E amar, assim como ser feliz, exige coragem. Coragem, meus queridos! Coragem!
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Sobre o tempo
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Afeto em atitudes
E aí são pequenos gestos, sutilezas do bem querer, que demonstram o tamanho do sentimento e a profundidade da relação que se tem por/com alguém. Não é preciso grandes declarações, demonstrações públicas, gritos em desvario, serenatas, outdoors, propaganda em horário nobre. Não é preciso que o mundo inteiro saiba, que seja twittado ou compartilhado via facebook, que seja um vídeo acessado quinhentas e quarenta e cinco mil vezes no youtube. Não é preciso que seja insensato definitivamente. A verdadeira demonstração de amor acontece em brandas demonstrações de carinho e inequívocas comprovações do afeto. E, para mim, é muito mais fácil que seja assim.
É o celular que toca só uma vez e a voz do outro lado é de alegria. É conseguir perceber num olhar o que está escondido e muito bem trancado no mais profundo de dentro e ter liberdade para falar isso, assim, de cara, pá pum. É ter ouvidos que não se cansam de ouvir a mesma história, o mesmo tema. É estar de prontidão para as emergências mais fúteis e para as mais inúteis. É cuidado um com o outro, com o bem estar, com o que se come, como se dorme. É ouvir com atenção histórias longas e contadas nos mínimos detalhes e se lembrar de cada um deles dias depois. É pensar numa música tema para os momentos que se vive junto. É estar à disposição a qualquer hora, do dia e da noite, onde quer que se esteja. É não precisar de esconderijos, nem de subterfúgios, nem de desculpas, nem de escapar pela tangente por conta dessa relação. É ter certeza sobre o que sente, sobre o que o outro sente e, principalmente, sobre o que os une. É não ter motivo de reproche, de vergonha, de medo porque é o que se é. É saber a dimensão e a importância da relação e ser grato por isso. É se preocupar com a opinião do outro e também sobre o que os outros pensam dele, com o que pode feri-lo, com que pode magoá-lo e tentar protegê-lo das agruras do mundo. É ter cuidado, carinho, respeito para aqueles dias em que o coração tá cambaleando. É dividir devaneios tolos, uma fatia de bolo, uma pata gorda de carangueijo, uma pizza de pepperoni. É estar presente quando a companhia é o melhor presente, seja um dia de alegria, seja um dia de desmoronamento. É segurar a mão, oferecer o ombro, lenço de papel, um pastel, massagem no pé, camisa reserva, o carro, o colchão. É comprar o presente exato sem fazer a menor diferença o preço. É saber o que ele quer comer, antes que se peça o cardápio. É sentir-se agraciado quando consegue agradar. É abrir mão de coisas que se sabe que podem atingi-lo. É tornar importante o que é importante para quem se quer bem. É ver o mundo com os olhos de quem se ama e sempre está um pouquinho à frente, uns passos a mais, para que nada de mal o atinja. É uma gentileza, uma delicadeza e, às vezes, também uns puxões de orelha, uns sacolejos. Porque ninguém pode viver flutuando, é preciso manter os pés no chão. É uma entrega de alma que se faz por amor.
É claro que tem quem ame diferente, de um jeito mais ogro, mais tosco, mais grosseiro, ríspido até (who knows?). É claro que tem gente que não sabe nem demonstrar nem falar o que sente. Mas essa linguagem aí é universal e, muitas vezes, o afeto em atitude vale mais que as palavras. O que não sai pela boca, mas vem de coração, tem muito mais poder e deixa demonstrado de maneira cristalina o bem querer.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Quando o coração desperta
Poderia, é claro, não ser nada disso se alguém não tivesse mostrado você pra mim, se a gente não tivesse conversado como amigos que se conhecem há muito, se a gente não tivesse se identificado instantanea e rapidamente desde o primeiro momento. Poderia não ter importância, não ter significado, não ser quase nada se a gente tivesse encerrado todo assunto no segundo ou terceiro email trocado. Poderia ter passado batido, ter caído no mais absoluto esquecimento, poderia ser só mais uma daquelas histórias de que a gente ouve falar se não tivesse trazido essa sensação de pertencimento e perenidade na vida. Poderia não ser nada demais se não fosse você e se não fosse eu. Se não fosse esse olhar de gente do bem, de coração bom, de gente que abraça com a alma. Se não fosse esse sorriso que ilumina os ambientes e aquece o coração. Se não fosse o seu nome ocupando espaços escondidos da minha mente, se espalhando pelos cantos do meu pensamento e adoçando minha boca. Poderia ser qualquer coisa, se não fosse seu jeito manso de falar, seu jeito profundo de olhar, seu talento para me desvendar. Poderia mesmo não ser nada disso, se em algum momento, qualquer deles, você não tivesse sido exatamente quem você é. Poderia fazer qualquer coisa, poderia ser o mundo todo, mas foi você, fomos nós dois e foi desse jeito. E então, foram inúteis e vãs todas as tentativas de esconder o que é, de aplacar o que transbordava, de conter o deslumbre. E então, todas tolas as vezes em que se quis disfarçar, omitir, sublimar. Muito boba a tentativa consciente e orientada de não ser amarrado por esse sentimento. E então, a gente entende, entendemos todos, que de nada vale a razão quando é o coração que desperta.
(Thais Racnela)
terça-feira, 24 de maio de 2011
Sobre os caminhos
Em determinados pontos do caminho, a gente se sente cansado e pesado e triste. Sente que está segurando a mão, as lágrimas, a dor, as pontas. Sente que está sendo privado de um caminho mais fácil, mais colorido, mais plano. Sente um certo desapontamento por ter escolhido esse caminho. Em tantos outros momentos, é possível elucubrar que as dificuldades porque se passa é para garantir robustez, resistência, sustância. É só um jeito meio torto de fazer com que não reste mais dúvida alguma sobre nada quando a parte plana do caminho chegar.
A gente sabe, porque é bem evidente, que a estrada é sinuosa, é tortuosa, que o acesso é precário, que não há faixas pavimentadas, que é um desbravamento contínuo. Cada passo dado é uma conquista. Cada pedaço de chão pisado é um deslumbre. Cada quilômetro percorrido é uma vitória. O problema - e talvez nem seja um problema mesmo - é ter bem claro, dentro de si, de um jeito pressentido, de um jeito inexplicável e surpreendente, que é esse mesmo o caminho que se quer. Ainda que seja assim difícil e cansativo e sofrido algumas vezes.
Já se disse uma vez que "para quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve". E se a gente sabe, se bate bem dentro de si uma certeza que pulsa e empurra adiante, que traz mais uma fornada de coragem sempre que a razão ou o coração titubeia, se se tem uma certeza que ilumina a escuridão do caminho inteiro; então a gente também sabe que, pouco importam os buracos, os barrancos, os abismos ao lado do caminho, pouco importam os deslizamentos e os desequilíbrios e as derrapagens no percurso. Porque quando a gente sabe para onde está indo o caminho é só um detalhe.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Um dia feliz
Obrigada a cada um de vocês que fez meu dia feliz ontem. PRICELESS!
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Recomeçando
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Abre essas janelas
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Cicatriz
Daqui a pouquinho vou falar umas palavras tristes para você. Mas você deve escutá-las da mesma maneira como combinamos ver as cicatrizes. Palavras tristes são apenas uma outra forma de beleza. Uma história quer dizer: essa contadora de histórias está viva. Daí a pouco, alguma coisa boa vai acontecer com ela, uma coisa MARAVILHOSA, e ela vai se virar e sorrir." (CLEAVE, Chris. Pequena Abelha. Intrínseca, 2010: p. 17)
terça-feira, 17 de maio de 2011
Cantem comigo: ei, ei, ei, Gabito é nosso rei!
Guarda-chuva
- Gosto daqui. De te telefonar já na terça-feira perguntando se posso voltar. De trazer um doce que te acalma, se você trabalha aflita no seu computador. Você é a única pessoa que eu queria conhecer bem e levar junto no peito nessas ocasiões especiais chatas que só servem pra masturbar minha vergonha alheia do mundo, depois te contar e rir contigo.
Sei viver sem você, oficialmente falando. Mas eu não quero, não vou. Eu poderia te dizer aquelas doces mentiras sinceras - "Você-é-minha-vida", "Não-sei-o-que-seria-da-minha-vida-sem-você" ou todo esse tipo de porcaria que a gente diz no calor da hora. As pessoas são assim, dizem que não sabem viver sem você. Depois aprendem e esquecem de comemorar contigo. E deixam vazio o lugar que sempre será delas. Eu não, simplesmente estou aqui. De vez em quando sujo, entediado, agressivo, mal-humorado, triste, calado e chato. Mas aqui.
Não há lugar ou motivo no mundo capaz de me afastar. Já fui a todas as festas que tive oportunidade, fui a todos os shows, praças, bares, drogas, músicas, ruas, modas e também já comi todas as biscates que precisei pra realmente me sentir homem, seu homem. Nada mais funciona. Nada na vida é mais excitante que ter alguém que te abrace por trás, entrelace os dedos e diga seu nome de batismo, estendendo um chá de erva-cidreira.
Porque eu te encontrei, da forma mais esdrúxula e inesperada. E me apaixonei pelo cheiro e pelo balanço meigo e suave dos seus quadris. E como duas sacolas plásticas que se enroscam na cidade, no meio do caos, movidos por um breve redemoinho pré-chuva, a gente resolveu que ia se amar. E ninguém sabe melhor sobre nós, que nós. Ninguém poderia me dar um só argumento pra que eu devesse ficar sem você. Que dirá essa gente lá fora, cheias do Complexo de Romeu e Julieta.
No show a sol e céu aberto do nosso cantor favorito ou assistindo um filme mal dublado na tevê, nós curtimos estar juntos o tempo todo. Resposta oficial: eu poderia estar por aí, com outro alguém, injetando as sensações vertiginosas de ser livre e procurado, mas dei uma abertura ao verdadeiro amor.
E nada é mais importante que isso, que é sim, às vezes pasmo, repetitivo e bucólico, mas é real. É isso, é preciso abrir mão de uma porrada de coisas se você não quiser ficar sozinho à noite, vagando pelo seu apartamento minúsculo com o maior corredor do mundo. Vê se um dia você entende. Pensa nisso. E pode largar mão do seu guarda-chuva contra as paixões. Até porque, nem tem chovido tanto assim.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Tomara que sim
Mas quando toca o telefone e escuto do outro lado a doçura da sua voz, o carinho para comigo, o cuidado com cada coisinha nossa de cada dia. Quando eu sinto o quanto faz bem, o quanto é leve, natural, tranquilo e feliz, mesmo com as correntes pesadas que arrastamos. Quando eu sinto que é a companhia mais presente dentre todas, mesmo daí. Quando eu percebo os sorrisos que surgem nos nossos rostos quando estamos juntos, a alegria que resplandece no olhar e as gargalhadas que arrancamos constantemente. Quando eu sinto que não somos uma escora, uma muleta que ajuda a suportar, mas o ceú azul depois da tempestade, o raio de sol depois do inverno mais congelante, a trégua depois de vários terremotos. Quando eu sinto o coração apertado quando dói em você e quando eu vejo você ler na minha alma o que está escondido no mais profundo de mim como se estivesse estampado na face. Quando eu sinto essa intimidade, essa cumplicidade e essa incrível e surpreendente sintonia que nos conecta. Quando a gente fala a mesma coisa ao mesmo tempo, quando eu penso em você e o telefone toca em seguida, quando se entende pelo tom de voz que o dia não foi bom. Quando eu me pego imaginando e revivendo, quando eu me vejo pensando em coisas para surpreender, quando eu me percebo em transformação não por imposição mas por sentir e aprender. Quando eu vejo o quanto é espontâneo e recíproco e doce. Quando eu me vejo pensando que é o melhor de cada dia todos os dias. Quando eu me sinto querida, ajudada, cuidada, amada. Quando eu tenho esses pressentimentos e previsões que são corriqueiramente confundidos com expectativas e desejos. Quando eu entendo que não é só uma boa história novelesca, não é só um lindo roteiro adaptado para a vida real, não é só um enredo emocionante, mas é o que é, somos eu e você, com nossos limites e problemas e entraves e medos e receios e impulsos e desejos e essa liga que amarra a gente. Quando eu penso em tudo isso, eu penso que sim, tomara que sim e que não haverá nada que me faça arredar o pé daqui.
domingo, 15 de maio de 2011
It's not a race at all
Look at us: running around, always rushed, always late. I guess that's why they call it human race. But some times, it slows down just enough for all the pieces to fall into place. Fate works its magic and you're connected. Every once and awhile, among all the randomness, something unexpected happens and it pushes us all forward. And the truth is, what I'm starting to think, what I'm starting to feel is that maybe the human race isn't a race at all."
From: The Switch
Música: All the beautiful things - Eels
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Quando pega de jeito
Você tá lá perdidinha da silva, já fez a curva do Cabo da Boa Esperança, já viveu uma história incrível, já casou de branco, já apostou suas fichas, já insistiu até não aguentar mais porque era um casamento, porque era um AMOR, porque era para ser para sempre. Você já sentiu no fundo do peito a dor de ver a relação deteriorando, definhando, amargando até não restar mais nada do que antes a fizera feliz. Você sofreu e agora não aguenta mais os domingos à noite, o cinema sozinha, a falta de jantarzinho à luz de velas, a dois. Você não aguenta mais essa dor que num se cala, esse aperto no peito que mais parece torção, essa solidão sem fim.
Você tá lá perdidinha da silva, já fez a Curva do Cabo da Boa Esperança, já teve seus filhos, já escreveu um livro, já conquistou sua independência, mata seus leões de cada dia, paga suas contas sozinha e em dia, manda no seu próprio nariz, resolve seus problemas como equações e anda pelo mundo com jeito de quem sabe bem o que quer. Você até que sofreu e até que sorriu. Você até que amou e desamou, traiu e foi traída. Você viveu e até venceu, mas no fundo, não aguenta mais os domingos à noite, o cinema sozinha, a falta de jantarzinho à luz de velas, a dois. Você não aguenta mais essa dor que num se cala, esse aperto no peito que mais parece torção, essa solidão sem fim.
Aí, né? Meio sem querer querendo você dá de cara com alguém que chega adoçando a vida e devolve as borboletas que debandaram em revoada quando a última lágrima caiu, amaciando um coração estancado e petrificado, devolvendo cor e descompasso aos dias até então modorrentos. Aparece alguém assim, do nada, cai de paraquedas na sua vida e com manual de instruções - sobre como desarmar cada uma das suas válvulas escapatórias e como ultrapassar cada uma das cem paredes de proteção - decorado. Vem dando beijos profundos na sua boca, olhando você nos olhos e lendo sua alma, falando sacanagens impublicáveis no seu ouvido e fazendo suas pernas cambalearem, suas mãos suarem e o mundo girar.
Aparece, de repente, alguém assim, que devolve a ânsia de encostar a cabeça no ombro, de dormir de conchinha, de ser carregada no colo, de andar de mãos dadas, de ser cuidada, mimada, massageada. Alguém que devolve a fé no casamento e a vontade de casar de branco. Alguém que faz você suspirar nas tardes de chuva, que faz seu corpo amolecer com as inúmeras possibilidades de. Alguém que faz você sonhar com uma família grande, com casa cheia, com fotos na sala com uma penca de sorrisos, com cachorros e decoração da casa de veraneio, com churrasco com família reunidas.
E aí, você vai desejar que esse alguém tenha certeza do sentimento que une vocês dois e do quanto é raro e especial e único e excepcional esse encontro. Vai desejar que ele entenda cada uma das suas nóias, e bobeiras, e ciúme toscos, todos bobos e que decorrem apenas do amar demais. Que ele saiba acalmar seu pranto quando ele explodir, arrancar sorrisos quando as coisas estiverem confusas, que adore suas DRs porque você expõe o que sente, que entenda seus sentimentos ainda que não concorde com eles e que faça simplesmente de tudo para que as coisas funcionem entre vocês.
Você vai querer que ele abandone tudo quando só o abraço dele for solução. Você vai querer poder ser menina, bebê, moleca, louca, esquizofrênica, autoritária e que ele te olhe como quem entende cada um dos seus achaques. Você vai querer ter certeza ao olhar nos olhos dele de que é amor até o último fio de cabelo. Você vai querer que ele esqueça, vezenquando, os amigos, o futebol de domingo, a cervejada com a galera só pra matar o tempo ao seu lado.Você vai querer que ele lembre de você quando ouvir uma música, quando se deparar com sua sorveteria favorita, quando passar na frente do prédio em que você trabalhou e até sem motivo algum, só porque teve saudade. Você vai querer que ele fale e demonstre e grite aos quatro cantos o quanto esse amor inundou a vida dele.
Você vai se ver querendo que ele morra de tesão por você, que ache gostoso seus pneuzinhos, que goste da sua bunda meio caída e até das celulites nas suas coxas. Você vai querer que ele te ache única, linda, perfeita. Você vai querer fazer amor e sexo selvagem ao mesmo tempo agora e vai enlouquecer numa cama só de vocês. Você vai imaginar a adição do sobrenome dele e vai achar lindo. Você vai imaginar vocês velhinhos e vai achar lindo. Você vai imaginar as brigas cotidianas e vai achar lindo. Você vai saber que ele tem pêlos no nariz, uma coceira no pé, o calcanhar descascado, um buchinho de chopp, um dente meio torto e tudo isso vai incrivelmente fazer parte daquilo que te faz louca por ele.
Você vai achar pela primeira vez e de novo que é o homem da sua vida e que é com ele a família que você sonhou. E aí você vai passar a torcer que o beijo não perca o sabor com a rotina, que as conversas não diminuam com o saber-se próximo, que o interesse não se perca ao se deparar com o rebolar de outras ancas. Vai torcer para que a paixão vire amor e para que o amor mantenha a chama da paixão. Vai torcer para ser só dele e que seja para sempre. Vai dormir e acordar com isso martelando na cabeça e vai entender, assim profunda, inequivoca, e declaradamente, que é nesse momento que a vida vale muito a pena.
quinta-feira, 12 de maio de 2011
Eu também
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Quando menos se merece
terça-feira, 10 de maio de 2011
Doendo
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Dentro de mim
Mas é no silêncio que eu encontro a paz e a tranquilidade para entender que é dentro de mim que moram todas as respostas. Dentro de mim, estão guardados meus quereres, minhas vontades, meus sonhos e projetos, minhas expectativas e meus desejos mais íntimos e secretos. Dentro de mim, mora alguém que sabe o que quer, que se entende e se reconhece. Dentro de mim, existe alguém que sabe lidar com a vida, com as alegrias e com as dores sozinha. Há por aqui, perdida em algum lugar, alguém que sabe caminhar sem esse apoio, sem essa dependência, sem essa carência. Dentro de mim, existe uma força que eu nem sabia que existia. Força que faz os olhos brilharem e devolve ânimo e vigor quando a luta parece excruciante. Dentro de mim, há alguém que vai até o depois do final do além em pé e a pé. Dentro de mim, há alguém que racionaliza as emoções, emocionaliza os argumentos e decide com parâmetros lógicos e impulsos. Dentro de mim, há uma contradição que se debate e, vezenquando, até me abate, mas que no fim das contas sabe bem onde é que quero estar. Dentro de mim, há uma pessoa firme que sabe pra onde vai e com quem pode contar. Dentro de mim, há certezas e dúvidas que se amontoam como poeira nos cantinhos das paredes e, muitas vezes, me deixam perdida e confusa sem saber o que é uma e o que é outra. Ainda assim, dentro de mim, há claramente definido o que eu suporto e o que não, o que eu topo e o que não. E, mais importante do que tudo isso, dentro de mim, mora uma pessoa que aprendeu com a vida e a duras penas a mudar a rota que havia sido traçada e a recomeçar do zero, mesmo que doa, mesmo que sofra, mesmo que falte o ar.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Gabito Nunes, meu rei!
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Laissez passer...
terça-feira, 3 de maio de 2011
O mais extremo ódio com o mais extremo amor
A vingança encharca a literatura e a música, mas seus mistérios jamais serão esgotados.
Vingança é uma arte, o refinamento da carência. Quem procura se vingar do ex ou da ex, na verdade, não cansou de brigar. Não terminou de argumentar. Vingança é discutir o relacionamento sozinho, é discutir o relacionamento à distância, é dedicar o dia inteiro, às vezes a vida inteira, a arquitetar uma forma de chamar a atenção do amante que negou o ouvido.
O luto é destinado aos que amam amar. Vinga-se a pessoa que odeia amar, odeia continuar amando. É o encontro do mais extremo ódio com o mais extremo amor. A união de dois terrorismos.
Vinga-se aquele que acredita que deu mais do que recebeu e que se enxerga ludibriado. Aquele que, durante a relação, cobrava em segredo tudo o que oferecia, listava presentes e gestos. A vingança é o juízo final do avarento amoroso.
Indica também prepotência. O vingador se enxerga superior ao vingado, mais experiente e sábio. Acha que está ensinando seu antigo par. Encarna a figura de professor repreendendo o erro do aluno. Assim como não sofre em vão, somente se humilha para humilhar o outro. Todo sofrimento é arrogante, debitado na conta do desafeto.
O vingador cobiça a última palavra pois não aceita que alguém pense o pior dele. Planeja castigar as supostas distorções e intimidar as possíveis confissões de sua intimidade. O vingador vive por hipóteses. Não entendeu que a última palavra não existe, é uma desculpa para mandar.
A vingança é o mais paradoxal dos atos: um sentimento inteligente em mãos burras e desgovernadas; uma pressa que exige longa paciência e dissimulação. Requer as mais contraditórias atitudes: sangue frio de alguém com sangue quente; calar-se apesar da exagerada vontade de falar.
A vingança fracassa pela ânsia de fama do seu autor. Quem busca se vingar pretende que o outro saiba que foi ele, que não tenha nenhuma dúvida. Deseja dar o troco beijando a boca, olhando nos olhos. Conclui que não adianta nada uma vingança sem remetente. E peca pela ambição, erra ao se expor, porque a represália aguda e exitosa esconde o criminoso para a perfeição do crime; deve ser anônima, gerando a desconfiança, mas não entregando totalmente o seu mentor.
Não conheço vingança perfeita. Não se vingar talvez seja a melhor vingança. Fazer esperar uma resposta que nunca virá.
(Fabrício Carpinejar)