quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

É preciso continuar falando sobre Santa Maria

Eu escrevi há alguns dias, quando a minha tragédia pessoal fez aniversário, uma frase de Humberto Maturana que diz: "Cada vez que um ser humano morre, um mundo humano desaparece". Lá em Santa Maria, foram mais de duzentos mundos que sumiram. E aí, a gente fica aqui, em frente à TV ou à tela do computador, pensando na dor daqueles que perderam entes queridos. Mães, pais, amigos, netos, filhos, namorados e maridos. Gente que tá no olho do furacão, sem chão, sem esperança, sem nada.
 
Diante da tragédia, a gente se sente mesmo injustiçado pela vida, por Deus e pelo mundo. E, nesse momento, são milhares de pessoas injustiçadas e com um abismo dentro de si, o buraco negro da saudade. Para quem perde alguém assim, de repente, o que fica é uma dor sem fim que precisa ser vivida, exteriorizada, sofrida para, quem sabe, algum dia, curar. Não adianta o papo de que "os bons morrem jovens", de que "está em um lugar melhor", que "são os desígnios de Deus"... O enlutado precisa de ombros, afeto e paciência de quem se dispõe a ouvi-lo chorar, falar do ente que se foi e sofrer.
 
Sofrer é preciso e continuar falando desses jovens também. Saber que tem gente que se preocupa com a investigação; saber que a sociedade civil se solidarizou e sofre em conjunto e clama pela averiguação das causas do acidente e pela punição dos infratores; saber que, a partir de agora, as casas serão vistoriadas e que as regras serão cumpridas; saber que outras vidas serão poupadas; saber que tem gente acompanhando e cobrando das autoridades essas providências todas, quando o enlutado mal consegue respirar, são grandes gestos que podem amenizar o desespero do luto.
 
A dor permanece e, repito, é preciso vivê-la. Não passa, mas diminui. Não vai embora nunca mais, mas se torna suportável, passa a caber dentro da gente. É preciso continuar falando sobre Santa Maria até mesmo para cumprir o clichê acalentador de que a morte desse jovens todos não pode ser em vão, até mesmo para que tantas pessoas que permanecem aqui com suas vidas partidas sintam-se acarinhadas por desconhecidos solidários, até mesmo para que o Brasil reflita sobre o nosso cultural jeitinho brasileiro que permite escapadas tangenciais para coisas que deveriam ser (cor)retas.
 
É preciso continuar falando sobre Santa Maria para que nenhum sofrimento humano seja em vão e para que os mundos que desapareceram continuem sendo lembrados para sempre.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A gente tarda, mas não falha!

Recebi da Mirys (minha irmã que mora longe, irmã de alma e de dor, irmã daquelas que sabe e-xa-ta-ment-te como a gente se sente).

1 - Como escolheu o nome do seu blog?
Há alguns anos, eu vivi uma tempestade justamente no lugar onde eu queria ficar pelo resto da minha vida. O fundo do poço está descrito no blog (www.naoquerooutrolugar.blogspot.com). Criei este blog quando as coisas arrefeceram e o sol surgiu após o dilúvio anterior. (Adoro metáforas...)

2 - Há quanto tempo tem seu blog?
Tenho blogs há muitos anos, desde 2004. O primeiro, o blog rosa, chamava-se "Aberta ao Mundo" e contava histórias de uma menina de 20 e poucos anos e solteira na pista. Depois, em 2006, eu criei o "Não quero merecer outro lugar" para contar todas as transformações por que passou aquela menina para se transformar em mulher-mãe-esposa-profissional. E em janeiro de 2011, surgiu o "Céu azul".

3 - Como você divulga seu blog?
Não divulgo. As pessoas chegam por acaso e tenho alguns leitores fiéis que me acompanham desde o blog rosa. Tive muitos problemas com anônimos e pessoas que acham que sua vida vira uma obra aberta porque você se dedica a contar uma pequena parte dela e do que sente na internet. Então, prefiro nem divulgar. Lê quem quer e, quem lê e vem com energia boa e do bem, é sempre bem vindo. Para os demais, o X no canto superior direito é a serventia da casa.

4 - Quais assuntos têm mais visualização no seu blog?
Não costumo acompanhar nem as visualisações nem o número de visitas, mas percebo que os posts tristes e melancólicos geram mais comentários.

5 - O que motivou você a criar o blog?
Exorcizar meus próprios sentimentos. Escrever é uma forma de racionalizar e eu sou muito racional, embora seja impulsiva. (louca define)

6 - Onde você mora?
Em Fortaleza, mas sonhando "de com força" com o planalto central.

7 - Quais os seus objetivos com o blog?
O blog tem efeito terapêutico pra mim. Portanto, não tenho grandes pretensões além dessa de colocar para fora aquilo que extravaza.

8 - Quais blogs você visita frequentemente?
Tenho uma lista com mais de 50 blogs que visito diariamente. Não vou copiar tudo aqui.

9 - O que te inspira para criar os posts?
A vida louca vida nossa de cada dia

10 - Além do blog, tem alguma outra ocupação? Se sim, quais?
O blog não é uma ocupação nem me sinto mais uma blogueira. Eu sou uma pessoa comum que tem um blog. Mas, em horário comercial, sou advogada em um fundo de pensão.

11 - O que mais gosta de fazer nos finais de semana?
Curtir os meninos e não fazer nada, não ter horário, não ter que absolutamente coisa nenhuma.
 
12 - Gosta de café?
Eu tomo, de manhã, só pra acordar.

13 - Pretende fazer algo, em 2013, para o blog?
Tentar voltar a escrever mais.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Três anos

"Cada vez que um ser humano morre, um mundo humano desaparece."

(Humberto Maturana)

 
E os laços são rompidos e buracos se abrem na vida das pessoas que conviveram e a vida segue meio que a contragosto, aos trancos e barrancos... Cada vez que um ser humano morre alguém perde o chão, o rumo, o norte; alguém se torna viúvo(a), órfão, metade. A vida não é mais a mesma depois de ter de lidar com a irreversibilidade da morte, acordar e dormir com o peso da ausência e a extravagância da dor da saudade. Os anos passam, já foram três. Os buracos são parcialmente preenchidos. A dor da saudade não é mais avassaladora e incapacitante. As lágrimas não caem mais quentes e grossas como antes. O mundo gira ininterruptamente e as coisas vão se encaixando em seus lugares. As pessoas descobrem formas de se acostumar com aquilo que não tem solução. Olhar para trás e sentir uma dorzinha, uma lágrima descer, um gosto doce e bom pelo que foi torna a adoçicar a vida e isso tudo é natural. Mas não há mais lugar, nem tempo, nem modo de voltar lá ou de trazer pra cá. Surge então a compreensão de que as coisas são como devem ser. E já disseram por aí que o que tem que ser tem muita força. Dá saudade sim nessas datas redondinhas, dá uma nostalgia absurda, dá até vontade de voltar lá no fantástico mundo do futuro do pretérito e se, se, se... Porém, o presente se tornou tão pleno e bonito, tão real e humano, tão forte e pulsante que não. São três anos já e a vida mudou. O coração arde e deseja que, onde quer que esteja, haja paz e a compreensão da incoerência do mundo. Nem esse adeus que aparta em dois lados o tempo e o espaço de duas pessoas tem o poder de apagar da memória a lembrança da felicidade que existiu. Então, que seja doce, que haja paz, que receba todo o amor que lhe foi e é devotado e esteja em Deus. Um dia, por certo, será possível reunirmo-nos num outro nível de vínculo. É essa a minha fé e a minha esperança.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Riqueza

Alguém já disse, não sei onde eu vi, que ser rico é ter tempo. E eu concordo. Tempo para espreguiçar na cama até a hora que o corpo quiser, em vez de dar um pulo com o despertador berrando. Tempo para curtir uma praia no meio da semana, em vez de ficar trancafiado num escritório congelante. Tempo para brincar com os filhos no fim de tarde, em vez de apenas ouvi-los por telefone. Tempo para ler aquela lista de livros que sempre quis ler, em vez de emails formais. Tempo para trabalhar e produzir algo de útil para o mundo, em vez de repetir à exaustão a mesma coisa todo dia, 8 horas por dia, 11 meses por ano. Tempo para planejar um jantar a dois, em vez de comer qualquer coisa em qualquer canto. Tempo para ir ao salão de beleza e fazer feira. Sem essa correria, sem essa agonia, sem ficar olhando para o relógio a cada cinco minutos e sentindo o tempo todo o peso de estar atrasado. Sem ter que engolir a comida, em vez de saboreá-la. Tempo para viver a vida, em vez de passar correndo por ela.

Definitivamente, eu sou pobre, pobre, pobre de marré deci.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Que bom!

Exercício da liberdade

Compromisso com uma pessoa é permitir que o outro entre na nossa vida. É sonhar junto sem se sentir ameaçado, marcar um horário sem se sentir controlado, dividir o espaço sem se sentir invadido. Compromisso não é 'falta' de liberdade. Compromisso é o 'exercício' da liberdade de estar com alguém.

Por
Luiz Carvalho Nogueira
 

E compromisso é reforçar esse sentimento e esta entrega a cada dia. É descobrir mais e mais motivos porque vale a pena. Vale muito a pena. É descobrir que o mundo gira, as pessoas mudam, gente entra e sai da sua vida e você continua com esse estranho sentimento que faz não querer merecer outro lugar. Que alegria andar nas nuvens sem tirar os pés do chão. Que bom que enfim a felicidade no superlativo máximo possível e no gerúndio. Que bom.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Bem resolvido

"Abdômen bem resolvido?
Peitoral bem resolvido?
Pernas bem resolvidas?
Prefiro algum homem que tenha o coração bem resolvido."

tati bernardi

 

E que, estando tudo bem resolvido, a vida seja leve e doce e tranquila. Sem sobressaltos, sem dor, sem medo, sem angústia. E que, a cada dia que o sol surgir, a certeza aconteça de novo e o amor multiplique nos dois. E que, a cada dia em que o sol se por, os sonhos sejam permeados de desejos mútuos, planos em conjunto e correspondidos e recíprocos e todas estas palavras que testemunham e atestam a veracidade daquilo que é. E que a felicidade deixe de ser conjugada no futuro do presente e se torne gerúndio ou pleonasmo vicioso e gostoso de viver. E que, diante daquilo que mais se quis, se aprenda também  a absorver e desfrutar a alegria do presente, do agora. Ser feliz é para já. Sem planos, sem subterfúgios, sem paredes de proteção, sem medo do abismo, sem plano B, sem matéforas, sem tangentes, sem intromissões, sem terceiros. Bastam a primeira e a segunda pessoas e os pronomes possessivos correspondentes: meus e teus. Terceiros não são bem vindos. Na vida e no dia a dia, a doce trégua daquilo que só se sabe sentir. Como se depois de um tempo tentando ouvir a música sem conseguir sintonizar a rádio, de repente, o som sai límpido e claro nos altofalantes. Como se, de repente, o atoleiro virasse uma autobahn. Como se, de repente, depois de muito quebrar a cabeça, a solução da equação saltasse nos olhos. Tudo muito bem resolvido e tudo no seu devido lugar. Repito as palavras de Caio, que um dia estamparão meu corpo: Que seja doce. Que seja doce. Que seja doce.