sábado, 29 de setembro de 2012

Conselho

Quando se trata das coisas do coração, a única lição que eu consegui tirar é que não podemos nos trancar. Muitas vezes, o baque que levamos é tão forte e dolorido, que tendemos a nos tornar introspectivos e incrédulos. Não vale a pena.

Quando se trata das coisas do coração, o melhor é arriscar. Se existe algo que faz cócegas no coração, que põe um sorriso no canto da boca e no fundo do olhar, se há alguém que devolve a cor aos dias mais sombrios, faz a vida leve e com que acreditemos de novo na possibilidade de milagre, se existe algo que tira o sono e permeia o sonho e com o que se acorda já pensando; existe uma grande possibilidade e tudo leva a crer de que é exatamente aí que está o perfume do amor.

Por que não se embriagar? Por que não se perfumar? Não se apegue a formalismos, a mecanismos, ao que parece ser correto. Não queira manter um imagem ou usar de alegativas para escapar pela tangente. Se existe alguém que te faz suspirar, arrisque, se entregue, se jogue inteiro. Ainda que existam muitos esparadrapos e cicatrizes no seu coração.

Não tem tempo certo para o amor, não tem hora certa para que as coisas aconteçam. Já disse um poeta, o amor é uma coincidência. E, se é mesmo um acaso do destino, que saibamos aproveitá-lo e consumi-lo e vivê-lo. Inteiro, profundo, com todas as fichas em jogo. Até porque, se é pra sofrer, a vida mesmo se encarrega disso, mas ser feliz depende muito mais de esforço e coragem individual. Eu nunca me fecho e é este meu único e mais sincero conselho.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Da série: poderia ter sido escrito por mim

Não sei gostar com calma. Aliás, mal sei o que é calma. Isso realmente existe?
Quer calma? Pede um copo d'água, um chá de camomila, um comprimido. Eu sou o contrário.
Não consigo aguardar o miojo ficar pronto, que dirá esperar que as coisas aconteçam. Eu não. Sou do tipo que não faz tipo. Corro atrás, pego pelo braço, puxo, mordo. Canso, mas também faço cansar.
Não que me orgulhe disso. Ah! Como dá trabalho!
Às vezes fico exausta apenas por ser eu. Porque ser eu é uma tarefa árdua, cansativa, sem folga e com pouca remuneração.
Não sei gostar com calma. Não me peça calma, meu bem.
Agora que sabes como a banda toca, se toca. Cai fora!




 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Aprendendo a desistir

Uma das lições que eu ainda preciso aprender é essa: desistir. Em alguns aspectos da vida, eu tenho preguiça de lutar, é difícil manter o foco e a concentração. Em alguns outros, contrariamente, eu não sei desistir. Eu insisto muito mais do que o tolerável. E aí, as coisas não terminam dentro de mim, os ciclos não se fecham porque eu não me dou por vencida. Preciso aprender a largar o osso, como me disse uma vez um amigo. Preciso aprender a baixar a cabeça e parar de tentar. Algumas coisas na vida não dependem do nosso esforço. Elas são ou não são. Elas existem ou não existem. Simples assim. Para aquilo que não depende de mim, eu preciso aprender a "let it go". É um trabalho árduo assistir passivamente as coisas acontecerem. É doloroso e massacrante. Ainda mais para mim, que tenho essa mania de querer tomar as rédeas das coisas, e decidir, e fazer acontecer, e jogar limpo, mas jogar com vontade e determinação. Desistir equivale a perder e eu não queria perder. Mas faz parte e eu estou aprendendo...

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Para quem lhe deveria resgatar: um grande amor

Era uma vez um grande amor. Desses que parecem coisa escrita pela mão de Deus; desses que devolvem sentido, razão e cor para vida; desses que a gente sente no fundo da alma que é coisa feita para sempre. Era uma vez um grande amor, desses que fazem crer em final feliz e que todas as comédias românticas do mundo são histórias verdadeiras, que fazem acreditar em destino e em predestinação. Era uma vez um grande amor que não tinha pressa, que sabia esperar em silêncio, no fundo do armário, que aguardava o momento de extravazar sua plenitude romântica porque era todo ele feito de certeza. Era uma vez um grande amor, que sobreviveu a inúmeras intempéries, dias de tempestade e de seca, dias extremos, e mostrou de maneira inequívoca toda sua força.

Era uma vez um grande amor que, no momento de se concretizar, se doou inteiro, profundo, sem rede de proteção, sem saídas de emergência, sem plano B. Ele era em si mesmo a razão e a finalidade, o passado e o futuro, a pergunta e a resposta. Era uma vez um grande amor, que não queria mais o fundo do armário, que queria sentar no sofá da sala e comer pipoca abraçado, que queria misturar os meus, os seus e os nossos, que queria ser realidade pública e notória. Era uma vez um grande amor que não queria mais ser segredo, que não queria mais subterfúgios. Era uma vez um grande amor que era todo feito de sonhos e de planos para serem concretizados a dois e a seis.

Era uma vez um grande amor que começou a ser consumido com a urgência de quem sabe da efemeridade e da fragilidade da vida, com a voracidade de quem não tem mais tempo a perder, com a profundidade de que era feito. Era uma vez um grande amor que tomou para si a responsabilidade de fazer sua história acontecer, que investiu cada segundo do tempo, cada dia de vida, cada pedaço de si a fim de transformar o roteiro de novela em história real. Era uma vez um grande amor que se agarrou ao que tinha para permanecer, que fez o que podia para não perecer, que esfolou as próprias mãos sem querer soltar as rédeas desse encontro. Mas as rédeas se quebraram...

Era uma vez um grande amor ferido, sangrando, esfolado, exausto, mas não acabado, não exaurido, não terminado. É uma vez um grande amor. Uma vez na vida e outra na morte, como diz o ditado popular. É uma vez um grande amor cansado de tanto lutar para ser, para caber, para existir. É uma vez um grande amor em silêncio, na posta restante, esperando ser reclamado por quem lhe deveria resgatar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Pedaços


E sempra há o ato final, sem aplusoos, com a pequena plateia farta de nossas más atuações. Vão me dizer "Ei, cara, se decide, ou caga ou desocupa a moita, tem mais gente interessada, não vê que assim trata a menina mal?", e vão aconselhá-la "Depois não adianta chorar uma semana inteira e me ligar achando que posso dormir uma noite lá e consolar você". É sempre a mesma coisa, mas é que, sei lá, as coisas parecem menos complicadas enquanto a gente se beija. (Gabito Nunes)
 
 
ACRYLIC ON CANVAS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Renato Rocha/ Marcelo Bonfá

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho
Mais perfeito que se fez

Os traços copiei
Do que não aconteceu
As cores que escolhi
Dentre as tintas que inventei

Misturei com a promessa
Que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três

Trabalhei você
Em luz e sombra

E era sempre:
"-Não foi por mal.
  -Eu juro que nunca quis deixar você tão triste"

Sempre as mesmas "disculpas"
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são.

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis
Que não chegamos a sujar

A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete

E com as lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz então, pincéis com seus cabelos

Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte.

E era sempre:
"-Não foi por mal.
  -Eu juro que não foi por mal, eu não queria machucar você.
Prometo que isso não vai acontecer mais uma vez"

E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer:
"-Sinto muito, ela não mora mais aqui".

Mas então porque eu finjo
Que acredito no que invento
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito.

Ninguém sofreu
E é só você
Que provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De Amor-Perfeito e Não-Te-Esqueças-De-Mim.