terça-feira, 12 de junho de 2012

Pra você



"Liberdade na vida é ter um amor pra se prender. A gente reclama muito da dependência, mas como é maravilhosa a dependência, confiar no outro, confiar no outro a ponto de não somente repartir a memória, mas repartir as fantasias. Confiar no outro a ponto de esquecer quem se foi assim que o outro esteja junto, é talvez chegar em casa e contar seu dia e só sentir que teve um dia quando a gente conta como foi. É como se o ouvido da outra pessoa fosse nossos olhos. Amar é uma confissão. Amar é justamente quando um sussurro funciona melhor que um grito. Amar é não ter vergonha de nossas dúvidas, é falar uma bobagem e ainda se sentir importante. É lavar louça e nunca estar sozinho. É arrumar a cama e nunca estar sozinho. É aquela vontade danada de andar de mãos dadas durante o dia e de pés dados durante a noite." (Fabrício Carpinejar)


É meio místico e um tanto quanto surpreendente, mas eu antevi. Eu sabia que você viria. Eu sabia da força que a sua vinda causaria na minha vida, eu sabia da mudança e da transformação que me aguardavam num futuro que eu antecipava. Pode parecer bobo, clichê, juvenil até, mas eu pressenti a sua chegada e a simples possibilidade dela acontecer era paz no meu coração, era alívio no peso que carregava, era analgesia nas dores que me impediam de respirar profundo. A verdade indiscutível é que eu senti que haveria alguém como você.

Eu sabia que você chegaria e que, depois disso, os meus rumos, as minhas escolhas, os meus caminhos estariam irremediavelmente atrelados aos seus. Eu sabia disso com uma certeza que me perturbava, mas eu sabia. Quando eu comentava, na minha rodinha de amigas, em meio a pizza e vinho, das minhas certezas, das minhas convicções, elas me olhavam com cara de espanto e incredulidade. Muitas disseram que eu poderia estar certa, mas que você não era esse alguém de quem eu falava. Eu sabia! Dentro de mim havia essa esperança que não convalescia, havia um pressentimento inarredável, havia a cer-te-za, enfim. Nem sei como explicar e coisas assim não são explicáveis. 

Você chegou até mim e era como se eu já te esperasse há muito, muito tempo. Quando as coisas começaram a acontecer realmente, elas já tinham acontecido dentro de mim. Quando nos conhecemos, foi como se eu tivesse sobrevivido ao pior de todos os vendavais justamente para esse encontro acontecer. Eu vi seus olhos de medo, de espanto, de dúvida. Eu vi sua confusão interna, sua resistência, sua inquietude ante as coisas que revolviam dentro de você e de mim. Eu vi seus pés atrás diante dessa entrega, desse encontro, desse amor. Para mim, era tudo tão familiar, it felt like home to me, que caminhamos por um longo período descompassados, em ritmos e tempos diferentes. Eu já tinha você tão dentro de mim, que parecia estranha, intensa, entregue demais. Você me olhava com olhos lúcidos, calmos, temperados e eu olhava para você como o caminho, o futuro que eu esperava encontrar e com a urgência dos que sabem que NÃO temos todo tempo do mundo.

Que bom que nos encontramos e que, do nosso caminhar em uníssono, se fez uma música audível e bonita de viver e de ouvir. Que bom que não exitamos diante de tantos apesares e de todos os pesares que enfrentamos e carregamos conosco. Que bom que você existe e que é você, desse jeito exato, desse jeito que é só seu e que é meu. Você não sabia, mas eu sabia faz tempo, como naquelas fases de efeito que as pessoas propagam virtualmente que aquilo que tem de ser tem muita força, eu sabia da força disso tudo que tinha de ser para nós. 

A sua presença em minha vida tem qualquer coisa de mágica, de feitiço, de encatamento, tem muito de ontem, de hoje, de sempre e de para sempre. A sua presença na minha vida ainda me deixa arrepiada com as curvas com que nos deparamos pelo caminho, que nos jogam às vezes para o alto, às vezes para o fundo do poço. A sua presença em minha vida me faz pensar nos desígnios e nos mistérios daquilo que não conhecemos, mas que faz com que nossa vida se misture, se amarre e se encante  com outra vida assim. A sua presença em minha vida faz um sorriso estampar em meu rosto, aquece meu coração, me permite encher os pulmões de ar e flanar pelo mundo com a certeza de que sou alguém para mais alguém.

Sim, é incrível pensar no enigma que cerca esses encontros tão certos entre duas pessoas numa multidão e que faz com que uma antecipe a chegada da outra e sinta, logo depois do encontro, que é como se conhecessem desde sempre. Sua presença me faz pensar em ser melhor, em correr para seu abraço, em cultivar e cuidar do seu/meu/nosso lar/jardim. Sua presença em minha vida fez eu, antes descrente de tudo, voltar a perceber e até entender a mão de Deus naquilo que não nos cabe escolher, apenas aceitar. Sua presença me fez voltar a desejar, a sonhar, a rezar e agradecer ao que vem não sei de onde e acontece nem sei porquê.  Sua presença me fez pensar na oportunidade preciosa e única que é viver um amor, desses que fazem o coração descansar em paz, desses que fazem a vida mudar de rumo e devolvem a sensação de que o caminho certo é esse em que se segue.

É você, só você.
Feliz dia dos namorados! Feliz 7 meses!


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Prenúncio

As professoras dos meninos entraram em contato comigo para informar que a escola, antes das férias do meio do ano, solicitaria que seus alunos elaborassem um desenho para o Dia dos Pais (OI??? JÁ???). A antecedência nos afazeres era por conta de que estes desenhos seriam transferidos para uma caneca que seria o presente a ser ofertado pelas crianças. E lá vou eu, com dois meses de antecedência, adentrar o tema com os meus pequenos.

Batemos altos papos quando vou colocá-los para dormir. Não foi diferente dessa vez. Estávamos conversando, já deitados no quarto deles, quando eu lembrei e introduzi o assunto:

Eu: Gente, eu queria falar sobre uma coisa com vocês. É que lá na escola vai ter a Festa do Dia dos Pais e, assim, vocês sabem que o papai de vocês já está lá no céu, do ladinho de Deus, e que não vai poder comparecer, né?

Matheus: É, mãe, a gente sabe...

Eu: Pois é... Aí, tem a festinha com a dança e tudo mais. Mas tem ainda um presentinho para o papai e as professoras vão pedir para que vocês façam um desenho. Eu queria saber se vocês querem participar, se querem fazer o presente...

Matheus: Mãe, as almas das pessoas que já morreram podem voar, né?

Eu: ...

Matheus: Então, mãe, meu pai vai descer lá do céu pra ver o dia da dança pra ele. Depois ele volta pra lá.

Thomás: Só que a gente nem pode ver ele. (sic)

Eu: Mas e o presente? Vocês vão querer fazer o presentinho mesmo sem poder entregar?

Matheus: Eu quero! E eu vou entregar pra você que é como se fosse meu pai também.


Hoje eles foram instados a fazer o tal desenho e, quando eu cheguei em casa, vieram me comunicar:

Matheus: Mãe, eu fiz o desenho do Dia dos Pais hoje.

Eu: Foi, amor? O que você desenhou?

Matheus: Ah, eu não desenhei meu pai porque ele já morreu. Então eu desenhei você.

Eu: Obrigado, amor.

Thomás: Mamãe, o A. disse que meu pai não tinha morrido, não, que ele tava na nossa casa. E eu expliquei pra ele que meu pai tá no céu e que eu queria desenhar você.

(FIM)

PS: Prometo mostrar as canequinhas quando ficarem prontas.



segunda-feira, 4 de junho de 2012

Poderia ter sido escrito por mim

Intensa, sim. Sensível, um monte. Atrevida, não nego.  
De armadura valente, essência repleta de sentir e um coração molenga, sigo cortejando flores e dissabores.
De cabelos avermelhados e esmaltes quase sempre descascados, levo na bolsa uma agenda cheia de idéias, na mente uma imaginação sem limites, na boca uma língua afiada, no documento uma idade que muitos duvidam e no peito um coração devaneador.  
Sou daquelas que sonham alto, que acreditam mesmo que o vento não esteja a favor, que buscam mesmo enxergando longe demais o ponto a ser alcançado, que tentam e não desistem até que a linha de chegada revele suas surpresas.  
Não vejo a vida com lentes cor de arco-íris. Na minha bagagem não cabem promessas nem utopias mas uma tendência desenfreada à esperança.
O que você chama de otimismo eu prefiro chamar de confiança e de fé. De um querer infinito. De uma coragem pulsante da qual me visto pra poder viver.
Já fui acometida pelo cansaço que desencoraja os sonhadores. Mas sou movida por uma teimosia e uma vontade de realizar que me põem de pé  todas as manhãs.  
As inseguranças podem até me fazer visita mas não têm morada aqui. Elas não prendem meus passos.  
Eu bem que tentei. Já quis ser diferente. Já bolei metas num papel. Esperar menos, tolerar mais. Apegar menos, abstrair mais. Me importar menos, relaxar mais. Insistir menos, dessintonizar mais. 
Não deu, não dá. 
Cada detalhe molda meus acabamentos. Cada ruína compõe meus alicerces. 
Cada estação, cada fase, cada vitória e fracasso me fizeram hoje ser quem pode muitas vezes até duvidar das pessoas e de suas intenções mas continua a apostar na vida.  
E não guardo segredos. Não teço mistérios. Minha teoria é simples. Meu sentir é exagerado. Me jogo, me lasco, me entrego, me esfolo inteira. Melhor do que viver pela metade. Amar pela metade. Acreditar pela metade.  Pra tombo há remédio, há refazer. Pra sonho desperdiçado, não. 
Por isso gasto meus sorrisos, não passo vontades, não guardo choros, não contenho gritos. Por isso insisto em desafiar o tempo e as pedras do caminho. No meio do furacão, saio devastada mas sobrevivo à tempestade. E não paro, e não me basto.
Recuar? Calar? Desistir? Verbos inexistentes no dicionário que inventei pra mim. Eu quero é pagar pra ver o final feliz acontecer. E fim.

(Yohana SanFer)