terça-feira, 29 de novembro de 2011

#ficaadica

Mulheres inteligentes e caras pra lá de babacas

(Fernanda Mello)

Toda mulher que se preze já se apaixonou por um babaca. A história é quase sempre a mesma, o final também. A gente conhece um cara, ele se mostra doce, maravilhoso e bem resolvido. A gente – encantada – guarda a intuição no fundo da gaveta, veste o melhor decote (e o melhor sorriso) e sai linda, leve e solta para mais um capítulo cheio de frases mal contadas, celular desligado e eventuais sumiços. Verdade seja dita: a gente sente que tem alguma coisa errada, mas acaba fazendo vista grossa. E acha que está sensível demais, exigente demais, desconfiada demais. E deixa rolar. O resultado? O cara te enrola, te pede desculpas. Depois vacila de novo e te enche de presentes. Meninas, estou escrevendo este texto para eu mesma decorar. Imprimir. E nunca mais esquecer. A gente não pode sair por aí perdendo nosso tempo com esses babacas. Chega de desculpar tanto, de tampar o sol com a peneira. Quando um cara REALMENTE está afim de você, ele vai até o inferno por você. Essa verdade ninguém me tira. Não tem trabalho, família, futebol, amigos, crise existencial, nem celular sem bateria que façam com que ele – caso tenha educação e a mínima consideração – não tenha tempo de dizer um simples "oi". Isso não é pedir muito, concorda? O cara não precisa dar satisfação a toda hora, te ligar várias vezes por dia, isso é chato e acaba com qualquer romance. O que eu quero dizer é que mulher precisa de carinho. Atenção. E uma sacanagem bem-dosada. Se o sujeito vive brincando de esconde-esconde, não responde lindamente suas mensagens, não te chama pra sair com os amigos dele e nem tenta te agarrar quando você diz que está com uma lingerie de matar por debaixo da roupa, minha amiga, o negócio está feio. Muito feio. Confesso que não é tarefa fácil colocar um ponto final de uma hora pra outra nessas histórias. Somos seres românticos, abduzidos pelos finais felizes dos filmes e livros. A gente sempre acha que alguma coisa vai mudar, que ele vai perceber TUDO o que está perdendo e vai aparecer com flores na porta da nossa casa. Mas a realidade é diferente. Não somos a Julia Roberts, não estamos numa comédia romântica e, na vida real, homens são simples e previsíveis. Quando eles querem uma coisa, não há nada – nem ninguém – que os impeça. Portanto, anotem aí: quando um cara está afim de você, ele vai te ligar, ele vai te procurar, ele vai te beijar, ele vai querer estar sempre com as mãos em cima de você. Não sou radical, apenas cansei de dar desculpas pra erros que não são meus. Ou são. Afinal um cara babaca sempre dá pistas de que é babaca. Só não enxerga, quem não quer.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Fundamental é mesmo o amor

Eu sempre soube, mesmo quando mais doí, mesmo quando as lágrimas caíam aos montes, mesmo quando os soluços e o peso eram constantes. Eu sempre soube, mesmo quando a vida estava de pernas para o ar, mesmo quando o carrinho estava estacionado no ponto mais alto do looping da montanha russa. Mesmo quando eu desacreditei e duvidei e me perdi das certezas que me moveram para frente, eu sempre soube. Soube de um jeito pressentido, intuitivo, surreal até, eu sempre soube que esse momento chegaria. Eu sempre soube que a vida entraria nos eixos e que, para além disso, no momento certo, seria doce novamente. Sempre pressenti que a felicidade tomaria assento na minha rotina e que eu encontraria de novo um caminho para seguir, um caminho meu. Eu só não sabia como esse momento aconteceria, quando ele chegaria e nem sabia que você estaria aqui.
 
Eu não tinha certeza sobre que posição, no quebra-cabeça de personagens, você ocuparia, mas sabia que você era algo que tinha vindo para ficar. E, assim, sem que pudéssemos evitar, a vida foi fazendo laços entre nós, amarrando nossas vidas, fazendo ponto cruz nas situações doloridas por que passamos, pintando colorido as alegrias que dividimos e tecendo um bordado bonito de (vi)ver. Não, certamente eu não sabia que haveria esse cruzamento de linhas, que haveria esse sentimento entre nós. E, muito embora eu não soubesse, houve tantos sinais: o carinho genuíno, a identificação, a admiração, a sensação de ser compreendido, as conversas que não tinham fim, o conforto, o afago, o amparo, abraços apertados, os olhos que brilhavam e a certeza de se estar à vontade na presença um do outro.
 
Foi tudo muito natural e, sem percebermos, fomos ganhando importância e abrindo espaços um para o outro no dia-a-dia, na rotina que compartilhamos, nas lutas que enfrentamos de mãos dadas, ainda que à distância. De repente, confidentes, a principal companhia dos dias, a melhor coisa da rotina, gargalhadas que atravessavam a metade do país e uniam em sorriso nossos corações. De repente, não mais que de repente. E, no meio de tantas conversas, um sentimento surgiu, confundindo tudo e deixando muito evidente sua força e seu poder. Não foi escolha, foi simplesmente o que não se pode evitar.
 
Foi difícil até entendermos que era preciso aceitar o que era bom e que estava sendo ofertado naquele momento. Foi um encontro inesperado, mas foi mágico deixar esse sentimento surgir e fazer raiz. A felicidade veio bater à nossa porta com essa oferta de amor correspondido e, então, passou a ser só uma questão de permitir. E permitimos. As vezes em que tentamos colocar um ponto final com ares de definitividade, a ausência doeu como crise de abstinência e tornou impossível prosseguir sem. Era mais forte que a razão, era doce surpresa do coração, era insuportável a ausência, era evidente demais, inegável demais e não havia como esconder os rastros do que nos tomou. O amor se fez inteiro em nós e adoçou a vida, amansou o coração, devolveu a luz.
 
Amar você faz cada dia mais leve e mais bonito, faz o coração bater num ritmo que é nosso, faz a vida muito mais feliz. Amar você faz eu querer me despir dos medos e das inseguranças, faz eu querer ser melhor, mais altruísta, mais madura, e ainda ser menina e manter um olhar puro para o mundo. Amar você faz eu ter um sorriso aberto e permanente no rosto, uma alegria em sentir tanto, uma euforia por reconhecer em você esse mesmo amor. Amar você me tira um pouquinho do chão, devolve lirismo aos meus dias - antes tão cinzas, me faz ver poesia no trivial, me faz o coração descompassado a cada trimtrim do telefone. Amar você pinta desse azul mais bonito cada céu sob o qual eu ando e faz eu achar que é muito bom estar aqui agora só porque você existe no meu mundo.
 
 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A mudança de status

A mudança de status nas redes sociais é a parte menor da revolução que me acomete. A mudança de status é a parte que os do lado de fora conseguem ter acesso nesse mundo virtualmente conectado. A mudança de status é a pontinha da montanha de sentimentos que vibram aqui dentro. Meu coração bate descompassado, sim. Há borboletas que moram em mim. Há também um sorriso estampa e a sensação de que o mundo é muito mais bonito simplesmente porque existem aqueles dois olhos que brilham ao encontrarem os meus. Há alegria que redunda e extravaza em tudo aquilo que é correspondido. Há essa saudade antecipada do que é e também do que será. Há essa sensação de conforto e de abraço apertado, de mão que segura a mão e de ombro para descansar o peso dos dias. A mudança de status é o mínimo diante da grandeza de uma relação, é um trisco diante da certeza do sentimento, é um lapso diante da fortaleza que uniu. A mudança de status é mero detalhe diante de tudo aquilo que devolveu força, luz, som, cores e esperança à minha vida. Depois de muito tempo dividindo o peso que carregava nas costas com palavras também pesadas; agora, divido a leveza: namorando.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

De Gabito para Caio


 

 
Eu compartilho desse sentimento em relação ao Caio Fernando Abreu. Descobri-lo no final da adolescência foi incrível. Uma sensação desconcertante de entrar num mundo novo, onde os sentimentos se transferem para as palavras de uma forma imediata, sem intermediários e com muitas figuras de linguagem. É clara a influência dele na minha escrita, assim como na de Gabito, de quem também sou fã.
 
Concordo, Gabito, Caio está perdendo o melhor da festa. Hoje ele seria ícone pop e rico.
 

Carta aberta para Caio Fernando Abreu

Posted: 16 Nov 2011 03:05 PM PST



É assim, com um pouco de vergonha de admitir, que só depois de um ano morando no mesmo bairro, a quatro quadras, que resolvi te visitar. Eu faço as coisas restritamente quando tenho vontade, você sabe como é. Meu agosto foi amargo e durou até outubro. Aí decidi: novembro ou nada. Fui te ver. Eu não esperava beber quente algum de seus chás ou mesmo a casa aberta. Aliás, na frente, alguém bacana fez e pendurou uma placa pra você. Nada de dragões, mandalas, morangos, agostos, chás, ovos apunhalados ou ovelhas negras.

Ali onde você escolheu pra viver seus derradeiros dias, após o diagnóstico daquela praga, eu fiquei parado, olhando. Eu queria dizer que senti uma coisa mística, um frisson semelhante ao ler "Sargento Garcia" ou "Sem Ana, Blues", mas não. Eu queria ter encontrado um outro lunático fotografando ou talvez uma garota sentada no meio-fio, entregando pra deus, vai ver porque hoje em dia não existe tanta gente disposta a, como é?, "pegar no seu queixo perguntando - o que foi guria?". Pois é, como você sempre reparou, a vida segue, e não anda nada fácil. Está faltando tudo - trabalho, dinheiro, honestidade, união, paz, felicidade, diversão - e amor o que é mesmo?

Também não queria dizer isto, mas você está perdendo o melhor da festa. Um dia, numa crônica na Zero Hora, não sei se você se lembra - é lá de 1995 - você escreveu algo como "depois que comecei a cuidar do jardim aprendi tanta coisa, uma delas é que não se deve decretar a morte de um girassol antes do tempo, compreendeu?" Sim, o recado foi compreendido, Girassol. Tenho uma má notícia (ou não): você meio que voltou, sei lá, te ressuscitaram. De um jeito estranho, Caio vive. Como um rockstar, talvez. Caio Fernando Abreu é o novo Caio Fernando Abreu.

Bem, acontece que inventaram um troço de internet. É tipo um telefone com imagem, só que bem mais barato, livre e instantâneo. Tem gente que não sabe usar, mas, cara, já está fazendo páreo com as bobagens da tevê. Olha, não existe horário político ou nobre, as moscas não giram só em volta da grana. Como vou explicar? Meio que a galera decide quem sobe ou desce, saca? Então. Você está lá, em voga, em vários, milhares de canais. As pessoas sempre rogaram por mais cultura e afetuosidade, taí. Ah, seus livros estão na vitrine, quase todos. Também estou atrás de Dulce Veiga? Onde andará?

Você não sabe (ou sabe), mas as pessoas estão lendo mais, tentando sentir mais, sorrir mais, se comunicando e compartilhando mais, escrevendo mais, emburrecendo menos com a televisão e comendo menos morangos mofados. Tem que ver, coisa mais linda. De um jeito esquisito, prático e por vezes frívolo, é gente interligada pelo fio condutor do trabalho, das coisas, da saudade que você deixou. É como se todos fôssemos um, como se cada um de nós fôssemos responsáveis por respirar uma célula do seu corpo. Anos depois, só agora. É tudo tão irônico, não?

Quiçá foi melhor assim, Machado de Assis também não foi devidamente honrado em vida e, no duro, você é o maior depois dele, eu acho. Mas há uma lição aí, viver como aquela do Sinatra, "My Way". Você tinha razão, dá mais certo. Ah, obrigado por tudo, principalmente por me levar a Jack Kerouac, que me levou a Bukowski, que me levou a John Fante e por aí vai. Me fez quem eu sou, e sou feliz por causa disso. De um modo ou outro, fazer alguém mais feliz não é pouca coisa, rapaz.

Sinto muito, mas há boatos de que o sobrado de estilo espanhol colonial agora abriga uma família. Pintaram de verde e vão instalar uma piscina. Parecem legais e alegres. Inegavelmente, há mais vida ali. É a impermanência, de um dia pro outro as coisas deixam de existir, nada dura para sempre. É o jogo, quase sempre a felicidade de um, começa na queda de outro. Um beijo carinhoso na testa, com "toda nossa saudade e o nosso amor de sempre". Descanse bem tranquilo. Se conseguir, claro. Porque daqui vamos continuar fazendo barulho.    
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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Palavras presentes

Provavelmente, você não se lembra do presente que ganhou daquela pessoa naquele aniversário de dez anos atrás (e a menos). Provavelmente, você não se lembra do que disse quando abriu a caixa embrulhada com fitas metalizadas. Provavelmente, depois de um tempo, você usará o que ganhou e nem se lembrará mais de quem deu, mas se lembrar, aquele objeto não terá mais todo o valor sentimental que teve quando da entrega. Provavelmente, os objetos perderão a referência. A palavra escrita marcada em papéis não. Estará lá sempre para lembrar do sentimento, do que se viveu, do que existiu. Você pode até esquecer quem te deu aquele vestido lindo, mas nunca esquecerá quem mandou um cartão com a pergunta pela qual se esperava há meses. Você pode esquecer quem preparou o café, mas jamais esquecerá do carinho descrito na carta escrita à mão.
 
As atitudes valem muito e provam o sentimento. As palavras documentam e eternizam o momento.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sempre vale a pena

Eu disse uma vez que ser feliz exige coragem. E imagino que, para quem nunca viveu uma grande perda ou um sofrimento enorme, essa pode até parecer um frase meramente retórica. Quando a vida é mansa com a gente e a felicidade vem na paz e na tranquilidade, é até difícil assimilar que é preciso ser corajoso para ser feliz. É quando a vida desanda, quando tudo se perde, quando a tempestade faz cinza o céu e amolece o terreno firme em que batíamos os saltos, que a coragem é exigida.

Quando menos se espera, acontece alguma coisa que deixa tudo de cabeça pra baixo, tudo de pernas para o ar e aí, sim, é preciso ter coragem para recomeçar. Coragem para acreditar, como diz a letra da música do Los Hermanos, que a estrada vai além do que se vê. Não é fácil, minha gente. Muito pelo contrário. É um desafio enorme e diário. É um esforço hercúleo. É uma tarefa de paciência excruciante. É preciso acreditar, ainda no meio do caos, que o futuro será melhor. Ter fé em Deus ajuda, ter fé na vida e no homem também, mas a verdade é que é um processo interno e difícil para o qual nem todo mundo está preparado.

É preciso coragem para arriscar de novo, mesmo com medo. Coragem para falar o que dói mesmo que as lágrimas rolem. Coragem para perdoar aquilo tudo que sempre se disse que jamais seria perdoado, engolindo o orgulho. Coragem para tentar mais uma vez, mesmo que cabisbaixo. É preciso coragem para insistir ainda que o mundo inteiro diga que não. Coragem para fazer valer a pena cada coisa que nos é imposta. Acredite: se elas estão aí, você será capaz de lidar com elas.

A vida volta a ser doce e leve depois da tempestade. Acreditem, falo porque vivo isso. As coisas voltam aos seus lugares. E, depois de decorrido certo tempo, a gente é capaz de entender, finalmente, que a estrada era aquela mesmo, pantanosa em algumas curvas e terra firme nas retas. Não, não queríamos atolar no pântano, mas diante dele, o que se tem é que fazer a força necessária para sair e sair.

A vida sempre vale a pena, mesmo que essa certeza pareça uma falácia no meio do caminho.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Nove de Novembro de novo

Então o tempo passa. Na verdade, ele corre acelerado fazendo os ponteiros do relógio girarem as horas, os dias, os meses, os anos. O tempo passa e quando nos damos conta já é de noite, já é domingo, já é novembro. O tempo corre e seguimos aturdidos com ele, mais ou menos como quando somos derrubados por um onda mais forte, daquelas contra as quais não conseguimos lutar e terminamos, sem nadar e sem andar, literalmente bolando até a areia. O tempo passa rápido demais e as datas se repetem freneticamente. E, nesse ritmo, terminamos querendo um pouco mais de calma, um pouco mais de alma, como diz a letra da canção, mas a vida não para.
 
Então o tempo passa e sendo novembro de novo e sendo nove de novo, o mundo amanhece em tons de cinza. A data se repete, não é a primeira vez, não é mais tão cortante, não é mais tão dilacerante como fora o primeiro nove de novembro sem ele no mundo; mas a data se repete e a saudade finca bandeira no peito e grita suas dores até não mais parar. A correria do cotidiano que impede que pensemos na dor se perde na data de hoje. A alegria da noite anterior que veio com a luz dada ao mais novo Thiago da família se ofusca com esse pesar de não se ter mais o tio pioneiro dos TH da família.
 
Então o tempo passa. É novembro e é nove mais uma vez. Há trinta anos uma alegria imensa na família pelo nascimento dele. Há muitos anos, um menino traquino, sempre com cortes e raladuras espalhados pelo corpo, assoprava suas velinhas. Há alguns anos, em sequência, sempre uma data cheia de motivos para se comemorar: conquistas, vitórias, carreira, família. Este ano, só saudade e ponto.
 
Então é saudade e mais uma vez há doçura em cada lembrança, há ternura em recordar, há gravado o sorriso encantador e o carinho para com o mundo. Há, sem dúvida alguma, ainda muito pesar pela ausência, por esta falta que derrama tantas lágrimas, que transborda o que cabe no de dentro. É saudade, é claro. Saudade da companhia primorosa, da gargalhada que engasgava e terminava em tosse, dos olhinhos quase fechados, das mãos de chimpanzé, do abraço caloroso, da segurança do ombro, da gordura nas têmporas e dos dedos de salsicha(né Sabóia?), da diligência e do dom profissional, da sapiência e da calma para resolver o que parecia insolúvel, da paternidade amorosa, da alegria em cada encontro. É saudade de tanta coisa, de cada detalhe do que ele era.
 
Então o tempo passa e a saudade, essa teimosa, permanece. Chega nesse nove de novembro destruindo um pouco da construção da superação que o mundo espera de nós. Ela vem derramando algumas lágrimas pelo despertar ao som de "parabéns pra você" cantada por dois pequenos que crescem sem o exemplo dele. Ela aparece e mostra sua presença em cada batida do coração que hoje está mais triste. A saudade está aqui e ela é prova contundente, incontestável, inquestionável para que ele, onde quer quer esteja, tenha certeza da imensidão de amor que deixou por aqui.
 
 
 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

As contas

Perdi as contas de quantas vezes eu disse nunca mais e queimei a língua. Perdi as contas das noites mal dormidas, revirando na cama com a cabeça a mil, em busca de soluções para problemas imaginários que pareciam insolúveis e que, meses depois, tornaram-se tão pequenos. Perdi as contas de quantas vezes eu achei que era o fim, o máximo que se poderia esticar a corda da paciência e da esperança, e depois descobri que ainda dava para muito mais. Perdi as contas de quantas vezes as lágrimas caíram aos montes, inundando tudo, achando que perdera o sentido e que a tempestade não teria fim para depois ver uma fresta de céu azul se abrir ao céu. Perdi as contas de quantas vezes eu achei que era um beco e, de repente, uma estrada. Perdi as contas das vezes em que duvidei, em que desacreditei, em que lastimei em vão e pensei ser inútil prosseguir, mas eu segui adiante e ainda estou aqui.

Estou aqui em pé, tentando, me debatendo, persistindo, insistindo e fazendo, a cada segundo, a escolha de encontrar motivos para sorrir no mundo. Estou aqui movida por um amor que devolve a luz e a cor, que restaura a vontade de viver, que inunda alma e coração e faz a gente crer que até as coisas muito ruins podem trazer coisas muito boas. A vida vale a pena mesmo quando ela dá voltas, mesmo quando vira tudo de cabeça pra baixo, mesmo quando a porta é batida na cara. Vale encher o peito e recobrar o ânimo quando a dor envergar a alma porque ali, logo ali, depois daquela curva que impede que enxerguemos o ponto de chegada, encontrar-se-á a razão de tudo e o pote de felicidade. É tudo uma questão de deixar os sentidos guiarem porque é certo de que eles vão encontrar o nosso lugar.