segunda-feira, 31 de outubro de 2011

#Dia D

Viver não dói

"Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. 

Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional."

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Pensando

Eu não sei se as coisas já nascem com prazo de validade. A gente nunca sabe quanto é que dura, até quando é que vai. Mas quem pára para pensar talvez pense em parar. Não sei mesmo se faz sentido. E se fizer nem interessa. Porque a prevalência é da incerteza, e mesmo que seja clichê é triste.
 
No fundo as coisas são tristes. (...) É chato demais ter que esperar o daqui a pouco para garantir o sorriso. Empurro o tempo e espero, espero, espero.
 
Algumas coisas boas podiam ser eternas. E não me entenda mal. Não é pessimismo, é o contrário. Uma vontade doida de que o que é bom seja também bom daqui a um, dois, três anos. Que seja até o fim dos tempos. Não queria me projetar num futuro o qual eu não entendo. Mas também não queria deixar para trás esses desejos. Que se exteriorizem. E que aconteçam. É tudo que peço. Ser feliz tem um preço... um dia somos tristes, e depois já não sei. Que o "não sei" venha logo... e que traga você de uma vez. Que esteja perto. E me desculpe as poucas palavras, o vocabulário raso. Algumas idéias vêm ao mundo despidas do luxo. 
 
 
PS: Ainda não estou em Fortaleza, queridos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

I can't help feeling we could've had it all


Quando a realidade não funciona mais é hora de colocar todos os seus sonhos dentro da mala e ir de “planos e cuia” em busca de conforto pra alma. Quando seu espaço fica pequeno para tantos desejos e a rotina começa a te apertar, pode se preparar pra colocar o pé na estrada.

É difícil aceitar, mas muitas moradias que construímos ou mesmo residimos ao longo da vida serão temporárias. Nossos planos são nômades e tem vontade própria, mudam de idéia a todo instante. Uma hora felizes em um canto, minutos depois inquietos e prontos pra partir.

Quando isso acontece, mais do que força para abandonar a antiga casa, é preciso coragem para enfrentar uma viagem desconhecida rumo ao novo.

É verdade, levar nossos ideais para morar em outro lugar pode ser assustador.
Mas também pode ser delicioso. Se essa viagem de recomeço tiver como guia nossa própria vontade.


Fernanda Gaona
 
PS: Meus queridos, eu não estou em Fortaleza e as postagens dos próximos dias foram programadas.

sábado, 22 de outubro de 2011

Sem olhar pra trás

“Quem me conhecer a partir de agora vai ter o melhor de mim”. A decisão foi tomada logo depois de mastigar o último pedaço de sanduíche natural. Desligou a luz da cozinha e foi lavar o rosto. Mas as mãos em concha não ofereciam a quantidade de água suficiente para lavar a sua nova postura. Despiu-se. Por longos minutos esqueceu as campanhas educativas e praticou o desperdício. Girou a válvula até o limite. Sob o chuveiro ficou a mercê de uma enxurrada. Imóvel. Talvez esperando o que ficou da pele antiga descer ralo abaixo. Tentou se lembrar de como era antes de morder o pão, mas não conseguiu reconstituir a sua própria imagem. Nem poderia. A mulher que escolheu ser, naquela tarde de domingo, já não estava mais subjugada a um passado de perdas recorrentes, de ciclos de covardia, de imobilidades periódicas. Estava enxuta, limpa, lúcida. Pronta para vestir uma roupa nova com estampas graúdas de recomeço.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Samurai

É disso que eu falo sempre, de arrebatamento; de tombar inerte ante a força do que se sente; de se superar os medos, as dúvidas, as queixas, as correntes pelo que é raiz dentro de si. Eu falo disso, de só saber sentir a despeito de tudo que se esperava e que se havia planejado, apesar da improbabilidade do sentimento, independentemente do que possam falar. Eu falo de algo que briga com o cérebro e que quer se manter aceso, fumegando a coluna vertebral, congelando o estômago. Eu falo do que muda o curso da vida, refaz planos e projetos, recria os sonhos e pinta de azul céu cada instante compartilhado. Eu falo daquilo que sempre deixa um gosto bom e vontade de muito mais. Eu falo de algo que devolve luz à escuridão; que devolve sentido e rumo certo à vida destroçada por um furacão; que traz de volta o sorriso de paz para o rosto e para o coração. Eu falo daquilo que faz pensar em para sempre, que faz querer mais tempo, que faz ansiar pelo que há de vir. Eu falo tão somente de um encontro raro, enzima-substrato, catalizando etapas rumo à felicidade.
 
Eu falo disso sempre e nem sei se realmente sou ouvida e compreendida. Eu falo que, embora o sentimento surja em turbilhão, ele pode se manter no universo infinito de dois. É certo que ele não precisa de espetáculo, de multidão, de platéia nem de aplausos. Ele subsiste na distância, nos contratempos, na rotina, no cotidiano que impede as vontades. Ele subsiste convivendo com o improvável. Porém, ele não resiste à unicidade de entrega, aos ataques feroz da solidão acompanhada, à tristeza de não se poder dar aquilo que não se tem e de não se poder ter aquilo que mais se quer. Ele cai desfalecido quando se depara com o não do outro, porque é preciso dois e só com dois ele se mantém em pé.
 
Então, eu falo de não se saber onde se esconder para que o sentimento não encontre; de buscar distrações e terminar com o mesmo pensamento; de querer fugir e permanecer exatamente no mesmo lugar. Eu falo da luta desleal, contra o que é muito mais forte, contra o que é infinitamente maior. Eu falo da resistência, da busca desenfreada pela calmaria no coração, da tentativa ininterrupta de se pacificar a alma e respirar profundo. Eu falo do que não é o que se queria e muda novamente os planos todos, o mapa que se queria seguir. Eu falo da música do Djavan, aquela em que se diz querer lutar contra o poder dele e acaba por cair aos pés do vencedor para ser um serviçal, um samurai. Só que, neste caso, a felicidade cedeu lugar à frustração.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Coaduno desse pensamento

 
Amor não é uma questão de merecimento, é gratuito, inexplicável. A gente ama e pronto. Se tentar racionalizar não é  amor, é medo, é preguiça de avançar. Não é preciso estar pronto para o amor, ele não avisa se você precisa esperá-lo vestido a caráter. Se tiver que seguir um roteiro para chamar ou no caso, "merecer" o amor de alguém, sugiro que você fique sozinho até se encontrar. Muitas vezes criamos expectativas em torno de uma pessoa, de uma história e mais adiante percebemos que idealizamos essa pessoa, que criamos uma história. É preciso estar aberto, essa coisa de foco é pra máquina fotográfica. A vida se revela no inesperado. Então, pare de se preocupar como, quando, se. Deixe o amor te pegar de surpresa. Pode até não ser sua história inventada, idealizada, mas será sua realidade encantada.

Renata Fagundes

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Fraquejando

Eu acreditei mesmo que não mais falaria de luto. Eu me propus a buscar outros temas, outras referências e expor agora este outro momento de vida em que me encontro. Eu achava que seria mais fácil do que efetivamente é. Porém, quando a ausência e a saudade gritam dentro da gente e espancam a alma até exaurir todo resquício de força que se tem, torna-se inescapável abrir o verbo para falar de dor.

Eu explico: o final de semana foi difícil. Um dos "T(h)iagos" da turma dele se casou. E quem conhecia, sabe que os quatro eram uma gangue, eram uma turma da pesada, conhecida e querida, sucesso com as meninas, sucesso nas festas. Eram, sem dúvida alguma, dos melhores amigos que ele tinha, pessoas que ele queria muito bem, pessoas com quem convivíamos sempre e era sempre um enorme prazer e uma alegria imensa encontrar nas inúmeras reuniões e noitadas. É incrível o carinho que uns tem para com os outros. Eram a turma dele, os amigos dele, as companhias de farra dele e eram muito presentes na nossa vida, mesmo depois da fase de solteiros-pegadores.

No casamento de outro amigo, em março do ano passado (http://naoquerooutrolugar.blogspot.com/2010/03/cartas-para-voce-ix.html), as coisas ainda latejavam demais, as pessoas choraram copiosamente a saudade e a ausência dele era presença que berrava e não nos deixava esquecer. As lágrimas que caíram provocaram a embriaguez e foi muito ruim estar sem ele ali. Neste sábado, no casamento do Rochinha e da Lia, a mesma turma, a mesma alegria, a mesma festa e eu sozinha. Fui muito feliz e emocionada por ter sido convidada para ser madrinha deles, por reencontrar tantos dos amigos dele, pessoas que faziam parte do que ele era, mas a ausência gritou de novo dentro de mim.

A turma hoje é composta basicamente de casais, muitos com filhos pequenos como a gente, muitos engravidando agora, e eu sozinha ali. Eram os amigos dele, os assuntos dele, as piadas dele, as coisas que ele mais gostava de ouvir e de fazer com pessoas que ele adorava estar e eu sozinha, sem ele ali. No discurso feito pelo noivo ele lembrou e homenageou o Thi, ressaltando o quanto ele faz falta. E aí, apesar de não ser mais tão latejante, apesar de não doer como antes, apesar de achar que consigo suportar, as lágrimas vieram. Eu estava sozinha, enquanto todo mundo estava acompanhado. Eu estava sozinha, num ambiente que era a cara dele. Eu estava sozinha, fazendo o que ele adorava fazer, estar com aquelas pessoas, beber e curtir a noite inteira. Eu estava só.

A festa inteira era a cara dele, não somente pelas pessoas, mas também pelas músicas, pela bandinha tocando frevo com aqueles guarda-chuvas de olinda, pelas músicas de axé... Eu curti, dancei, bebi, ri muito, fui paquerada (!!!). Não foi um peso, mas ainda assim doeu muito. E, ao voltar para casa, com o dia nascendo, as lágrimas caíram aos montes. Não sei se algum dia isso tudo vai parar de doer em mim. Não sei se algum dia, se eu estiver nesses eventos acompanhada, se isso mudaria a sensação de vazio e o peso de não tê-lo mais no mundo. Não sei se tem coisas que são mesmo insuperáveis, doem e vão doer sempre. Não sei se serei capaz de afastar do meu coração essa dor de tudo que poderíamos ter vivido juntos, a frustração de tudo que poderíamos ter sido, a irresignação por essa partida tão de repente e tão precoce. Eu não sei.

O que sinto agora é que o vazio não deixa de existir; que a perda dói muito, mesmo quando essa dor fica disfarçada de superação e resiliência; que a vida faz com que coisas boas aconteçam depois das coisas ruins e, ainda assim, a gente se pega sentindo falta do melhor que tinha; que não adianta fugir do que se sente e que é preciso permitir que estes sentimentos cheguem, revirem tudo e se vão. O que eu sei é que eu ainda cambaleio, mas eu quero me manter de pé. Sempre.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Quando o amor se tornou quadrangular




Eu já contei que eu não escolhi ser mãe, eu me tornei uma numa das reviravoltas que a minha vida deu. De repente, eu estava ali com marido, filho pequeno, dona de casa, trabalhando fora... De repente, muito de repente. Quando eu comecei a me acostumar com a nova rotina, o Thi já veio propondo que a gente tivesse mais um bebê. O Matheus ainda mamava e dava um trabalho enorme para pegar a mamadeira. Eu ainda estava bem acima do peso e queria emagrecer. Ele dizia que seria legal ter duas crianças bem pertinho assim, que eles cresceriam juntos, que seriam amigos. No argumento, pesava um pouco o fato dele ter sido o mais novo da família, a raspa do pote, com uma diferença de mais de quatro anos para a irmã do meio e mais de seis para o irmão mais velho.

Eu achava que era incapaz de dividir o amor que eu sentia pelo Matheus. Eu achava que não conseguiria amar mais ninguém da mesma forma que o amava. Mas meu marido era bem insistente quando queria muito uma coisa. Lembro bem que, no discurso do aniversário de um ano do Matheus - em 2007, ele disse que em 2008 teríamos outro filho. Lembro claramente de que, na noite do Reveillon de 2008, ele repetiu a promessa ante amigos e familiares e eu ri muito. A gente ia passar o carnaval em Salvador e eu tomava ainda anticoncepcionais, como ele podia estar tão certo de que teríamos outro filho ainda aquele ano?

A alegria dele em ser pai, a dedicação e o carinho, o amor que ele sentia pela família que nós estávamos construindo me convenceram a parar a pílula e abrir a possibilidade de mais um bebê. E eu engravidei quase que imediatamente. Thomás foi feito lá mesmo no Carnaval de Salvador e ao retornar, quando a menstruação atrasou um dia, um mísero dia, o Thiago mesmo fez uma requisição do Beta hCG e eu fui rindo, chamando ele de ansioso, fazer o exame de sangue no laboratório. À noite, em casa, eu já nem me lembrava que tinha ido, tão incrédula que eu estava, e ele, empolgadíssimo, entrou na internet para ver o resultado e POSITIVO! Foi assim que num mesmo 20/02, só que dois anos depois, o nosso amor se tornou quadrangular.

A torcida majoritária da família era para que viesse uma menina, mas guardo ainda as lágrimas do Thi quando descobrimos que era outro menino que viria e das palavras dele de que nossos filhos seriam muito amigos. E, quando a vida deu outra reviravolta, foi justamente esse pequeno que segurou as nossas pontas. Com sua inocência, com sua parca compreensão da realidade, por não carregar o peso da falta - tão óbvia e tão presente em mim e no Matheus, ele nos ajudou a ficar em pé. O amor que une meus dois pequenos é tão lindo de se ver e mataria de orgulho o pai, que sonhou desde muito antes com a amizade deles dois.

Hoje faz três anos que nos tornamos um quarteto. É lindo me ver nele e reconhecer traços da personalidade do Thi no Thomás, ainda que esse referencial não esteja presente no crescimento dele. É precioso ver a importância que ele tem para mim e na vida do irmão mais velho. Do jeito dele, com a pureza dele, com a leveza que só a inocência é capaz de proporcionar, ele fez cada um dos dias mais feliz.

Parabéns, Thomás! Que muitos outros anos sejam comemorados. Te amo muuuiiitttoooo, enooooorrrrme!!!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Fato

A paz de que eu preciso só encontro quando saio de dentro de mim e me enxergo pelo olhar do outro. A calmaria que abre sorrisos só me acha quando me permito querer menos e me doar mais. A felicidade só me alcança quando deixo de pensar em mim para simplesmente viver cada coisa a seu tempo. Não é preciso confabulações e discursos, nem compromissos e agendas, muito menos contratos, cauções, avais. Tudo isso não passa de idiossincrasias oriundas da criativa mente humana para fazer caber num conceito aquilo que só se sabe sentir.
 
Quando se permite deixar de querer tanto é que se compreende a infinitude. Quando se permite parar de cobrar tanto um lugar é que se percebe que as coisas naturalmente ocupam seus devidos lugares. Quando se baixa a guarda, se derruba os muros protetores e se guarda as armas é que se consegue então olhar nos olhos e ver aquilo que salta, que é óbvio. Não importa quantas vezes se ouviu, é importante perceber e sentir. E só se consegue perceber e sentir assim.
 
Não aparece extravagante, extraordinário, não são fogos de artifício pintando de fogo o negrume do céu, não são letreiros luminosos em luz neon, não é esquadrilha da fumaça. Pelo contrário. É calmo, sereno, tranquilo, corriqueiro, cotidiano; mas mais importante: é recíproco. O que mora no peito é inconfundível e, por mais que se lute em busca de contenção, escorre pelas frestas dos olhares que se encontram num espaço-tempo de perfeição. Escapole nos pêlos eriçados após o toque; na ausência de fôlego a cada beijo. Não há obstáculo capaz de ocultar a vontade que o coração escolheu.
 
É preciso então esquecer o próprio umbigo, as cobranças, as discussões inúteis, guardar as armas, recuperar o fôlego, se encher de coragem, para entender que a entrega é muito mais importante que o retorno e que, de todas as escolhas feitas pelo coração, a que é mais difícil é o estorno. Não se tem como reaver o amor que se dedicou, não é possível evencer aquilo que se deu por amor, não há garantia alguma de reciprocidade, nem de compromisso, nem de vantagem em troca. E ainda assim é quando mais se dá que mais se recebe. Fato.